A OutDoor, principal feira do mercado outdoor global, anunciou uma pausa em sua edição de 2025. A decisão tomada pela European Outdoor Group (EOG) e pela Messe München, organizadora do evento, foi descrita como “corajosa e lógica”, diante da baixa adesão de expositores e visitantes. O objetivo declarado é usar o ano de 2025 como um período de reestruturação, visando um retorno mais forte em 2026.
Foto: Messe München GmbH
Essa notícia marca mais um capítulo na transformação do mercado outdoor, que vem passando por mudanças significativas nos últimos anos. Como participante da feira desde 2001, em sua época em Friedrichshafen, acompanhei de perto o papel central que a OutDoor desempenhou na indústria. O evento era o ponto de encontro anual para marcas, distribuidores, imprensa especializada e outros players do setor, onde eram apresentados os lançamentos e tendências para o próximo ano.
Estande Deuter – OutDoor 2002
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Estande Deuter – OutDoor 2014
O mesmo acontecia no Brasil e em outros países, onde feiras como a Adventure Sports Fair tinham como um dos objetivos apresentar a nova coleção das marcas para o mercado local – neste caso, o mercado brasileiro. Revistas que, infelizmente, não existem mais tinham o papel de disseminar os lançamentos para o resto do país.
Esse modelo começou a enfraquecer antes mesmo da pandemia de COVID-19, impulsionado pelo crescimento das vendas diretas ao consumidor (D2C) e pela redução dos investimentos em mídia especializada, feiras regionais e internacionais.
Estandes das marcas Vaude, Kampa e Deuter na Adventure Sports Fair 2002 – São Paulo
A pandemia acelerou esse processo, obrigando as marcas a realizarem lançamentos online, reduzindo custos de participação em eventos físicos. Contudo, o impacto a longo prazo dessa mudança ainda é motivo de debate. Embora o formato digital ofereça economia, ele não substitui completamente o networking e as oportunidades de negócios proporcionadas por encontros presenciais. A queda no faturamento de grandes marcas nos últimos anos levanta a questão: será que o abandono do ciclo tradicional feriu o mercado de forma irreversível?
Estande Deuter na Adventure Sports Fair 2018 – São Paulo
Estande Deuter na Adventure Sports Fair 2018 – São Paulo
Lançamento da Coleção Deuter 2019 na Adventure Sports Fair 2018 – São Paulo
Outro fator que, na minha opinião, contribuiu para essa transformação foi a aquisição de empresas originalmente fundadas por entusiastas do mercado outdoor por grandes corporações focadas em resultados financeiros. Esse movimento alterou a cultura do setor, reduzindo investimentos em projetos de conservação ambiental, atletas e influenciadores autênticos, que antes desempenhavam um papel essencial na promoção das atividades ao ar livre.
Apenas como exemplos, podemos citar a CamelBak e a Marmot, duas marcas americanas que passaram por diversas aquisições ao longo dos anos. A Marmot foi adquirida em 2004 pela K2 Sports, que, em 2007, foi comprada pela Jarden Corporation. Posteriormente, em 2016, a Jarden foi incorporada pela Newell Rubbermaid. Já a CamelBak teve sua primeira aquisição em 1996 pelo Kransco Group, seguida pela Bear Stearns Merchant Banking em 2004, pela Compass Diversified Holdings em 2010 e, em 2015, pela Vista Outdoor. Em 2023, a Vista Outdoor reestruturou suas operações e criou a Revelyst, Inc., que passou a abrigar a tradicional marca de hidratação, além de outras marcas do mercado de ciclismo, como Bell e Giro.
Apesar da pausa da OutDoor em 2025, o setor ainda terá duas oportunidades importantes para networking e troca de informações: o Sustainability Hub, promovido pela EOG na ISPO Munich 2025, e a nova Sustainability Conference, prevista para o período originalmente destinado à OutDoor by ISPO. Além disso, a parceria estratégica entre a EOG e a Messe München busca fortalecer a ISPO Munich como a principal plataforma global para a indústria de esportes e outdoor.
O futuro da OutDoor dependerá da capacidade dos organizadores em desenvolver formatos que ofereçam valor real aos participantes. O ano de 2025 será crucial para reavaliar o papel das feiras físicas em um mercado cada vez mais digitalizado. A pausa não deve ser vista apenas como um revés, mas como uma oportunidade para repensar o modelo de eventos do setor, equilibrando a eficiência do online com o poder das conexões presenciais.
Resta saber se, em 2026, a OutDoor conseguirá reconquistar seu papel como o ponto de partida da nova temporada e o coração do mercado outdoor global. O desafio está lançado.
Para saber mais, leia o press release com a notícia da pausa da OutDoor: https://www.ispo.com/en/press/press-releases/eog-and-messe-munchen-decide-pause-outdoor-2025
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