A indústria outdoor dos Estados Unidos está passando por uma transformação profunda. Por décadas, a Outdoor Retailer (OR) foi o grande ponto de encontro do setor, mas, após a pandemia de COVID-19, a feira perdeu força, foi esvaziada e, em suas últimas edições, deixou de contar com a presença das grandes marcas da indústria. Esse vácuo abriu espaço para um novo evento assumir protagonismo: a Switchback, lançada em 2025 como a nova feira nacional de destaque.
Com um formato mais intimista, foco no varejo especializado e uma programação que combina exposição de produtos, educação e construção de comunidade, a Switchback já é vista como o futuro das feiras outdoor nos EUA.
Switchback Spring 2025
O fim de uma era e o início de outra
A Outdoor Retailer marcou época. Durante anos, foi “o lugar” onde marcas, lojistas e distribuidores se encontravam. Eu mesmo participei de várias edições desde 2004, alternando entre a OR, nos EUA, e a OutDoor em Friedrichshafen, na Alemanha. Ainda que a feira americana tivesse foco maior no mercado interno, sempre foi palco essencial para descobrir tendências e fortalecer conexões.
Foto da Outdoor Retailer 2004, nos Estados Unidos
Mas a pandemia acelerou uma crise já em andamento. Com custos altos, mudanças na cadeia de suprimentos e o crescimento dos canais digitais, a OR perdeu espaço. As últimas edições mostraram uma feira esvaziada, sem as grandes marcas que antes davam o tom. O setor ficou órfão de um encontro centralizado e relevante.
E não foi só nos Estados Unidos. Na Europa, aconteceu algo parecido: a tradicional OutDoor, que já havia sido incorporada pela ISPO, também perdeu fôlego. Em 2025, a organização anunciou uma pausa na feira OutDoor by ISPO, após baixa adesão de expositores e visitantes, planejando uma possível retomada em 2026. A própria ISPO precisou rever seu formato e passou por uma reformulação completa, reposicionando-se como uma plataforma de negócios mais ampla, conectando diferentes segmentos do esporte e do lifestyle Essa movimentação reforça que o modelo tradicional de feiras outdoor entrou em xeque globalmente.
É nesse cenário que surge a Switchback, trazendo de volta a energia e a expectativa que muitos veteranos da indústria sentiam falta.
Switchback Spring 2025 – Max Photography, Austin
O que é a Switchback?
A Switchback nasceu a partir da feira The Running Event (TRE), especializada em corrida. Depois de um “teste” em novembro de 2024, dentro do TRE, realizou sua estreia independente em junho de 2025, em Nashville (Tennessee), no Gaylord Opryland Resort & Convention Center.
Números da primeira edição:
- 1.300 participantes
- 194 marcas expositoras
- 290 varejistas de 41 estados e 9 países
- 2.787 m² de área de exposição
Um início sólido, mas o mais importante foi o clima de reencontro: a sensação de que, finalmente, a indústria tinha novamente um espaço vibrante para se conectar.
O que torna a switchback diferente?
A Switchback se posiciona de forma clara e estratégica:
- Conexão presencial em primeiro lugar – Depois de anos de reuniões virtuais, a feira devolveu à indústria a possibilidade de encontros cara a cara, algo que muitos descrevem como “a alma do setor”.
- Formato íntimo e inclusivo – Os estandes foram limitados a 6,1m x 6,1m, nivelando o espaço entre grandes marcas como Merrell, The North Face e Arc’teryx e empresas emergentes. Isso garante que ninguém “fique escondido” por orçamentos milionários de marketing.
- Foco no varejo especializado – Pequenos lojistas tiveram protagonismo, com debates sobre desafios reais, como as políticas de Preço Mínimo Anunciado (MAP) e as margens apertadas frente aos descontos das próprias marcas. A proposta é construir comunidade com iniciativas locais — de clubes de corrida a happy hours.
- Conteúdo educativo relevante – Painéis e palestras abordaram tarifas, sustentabilidade, estratégias de parceria e perfis de consumo. Jim Weber, ex-CEO da Brooks Running, abriu o evento falando sobre o “momento de mudança” da indústria.
- Novo olhar sobre o consumidor – Kelly Davis, da Outdoor Industry Association, apresentou uma segmentação em Core (5,1%), Active (49,7%) e Casual (42%). A mensagem: não basta falar apenas com os entusiastas “hardcore”. A força do mercado está no público Active e Casual, que também busca bem-estar e experiências na natureza.
- Parcerias estratégicas – A feira é parceira da OIA, Leave No Trace, 1% for the Planet e The Conservation Alliance, reforçando seu alinhamento com temas de conservação, diversidade e inclusão.
Switchback Spring 2025 – Max Photography, Austin
O que diz a organização: lições da primeira edição
Em entrevista ao podcast Rock Fight – The Switchback Post Mortem, Christina Henderson, diretora da Switchback, destacou três pontos essenciais:
- A energia do evento foi tão forte que até marcas que não participaram falaram sobre a feira nas semanas seguintes.
- O maior desafio para 2026 será consolidar a Switchback como um evento fixo no calendário, e não apenas uma novidade.
- A visão de longo prazo é que a Switchback não seja apenas “três dias em um centro de convenções”, mas sim uma plataforma contínua de conexão, com conteúdo, dados e networking durante todo o ano.
Esses depoimentos reforçam a ideia de que a Switchback quer ser mais do que uma feira — ela quer se tornar o novo hub da indústria outdoor.
Switchback x Outdoor Retailer: quem lidera hoje?
A Outdoor Retailer ainda existe e continua realizando suas edições — a OR Summer 2025, por exemplo, reuniu mais de 290 expositores. No entanto, o evento deixou de contar com a presença das grandes marcas do setor outdoor, o que comprometeu sua relevância como “feira principal”. A Switchback, por sua vez, chegou com um formato enxuto, moderno e colaborativo, conquistando rapidamente lojistas, fornecedores e associações de peso. Na prática, ela está assumindo o papel que a OR já teve um dia: o de espaço central da indústria, mas agora adaptado a uma nova realidade.
Quando e onde acontecerão as próximas edições?
- Switchback @ TRE 2025: 2 a 4 de dezembro, em San Antonio, TX.
- Switchback Spring 2026: 16 a 18 de junho, em Nova Orleans, LA.
Conclusão: um futuro promissor
A Switchback já nasce com status de “feira que a indústria precisava”. Seu formato inclusivo, o foco em educação e a valorização do varejo especializado conquistaram de imediato.
Ainda não fui à feira, mas estou com a sensação de que reviverei a energia das grandes feiras do passado, mas em um formato mais humano e conectado.
Como disse Christina Henderson, o sucesso da Switchback será medido pela energia e pelo clima que ela criar — e, se depender da estreia, o futuro promete muito.