A importância do conhecimento

“Encontrei um corredor correndo em círculos, confuso”. “Um corredor estava sozinho, agarrado num tronco, delirando”. “Eu estava fraca, sem energia, e bebia água pois achava que estava desidratada, mas não melhorava.

Todos os comentários acima são reais, a mim contados por praticantes de atividades nas montanhas e de ultramaratonas. Cada comentário faz parte de uma história onde pessoas sofreram problemas dos quais não possuíam nenhum conhecimento e que poderiam ter sido evitados com bom preparo e planejamento. Felizmente, o final de todos os episódios relatados foi feliz, mas nem sempre é o caso, e muitas fatalidades ocorrem nas montanhas como resultado de problemas que podem ser evitados.

Eu costumo dizer que “os anjinhos trabalham bem”. Ou seja, muitas vezes as pessoas se colocam ou se encontram em situações de risco elevado de acidente, e inclusive de morte, sem terem o conhecimento ou ciência do fato. E, por uma questão do acaso, sorte, ou de um anjinho, saem ilesas do evento.

A boa notícia é que a grande maioria dos problemas que podem acontecer com praticantes de atividades nas montanhas pode ser evitada e, em alguns casos, tratada – ou ao menos iniciada a intervenção – em campo, ganhando-se tempo para que seja realizada a evacuação até o atendimento médico adequado. Um bom treinamento de primeiros socorros deveria lhe ensinar não somente a tratar problemas sérios e a lidar com acidentes, mas também fornecer uma bagagem de conhecimento adequada para lhe ajudar a evitar problemas, muitos dos quais abordados nesta coluna. Em nossos treinamentos, desde o nível mais básico (WFA) ao mais elevado (WFR) fornecemos ferramentas para administrar acidentes, reconhecer quando outras pessoas estão tendo problemas, identificar a severidade de problemas médicos, prevenir e tratar problemas ambientais e tomar decisões referentes a quando e como realizar uma evacuação; em cursos avançados cenários simulados realistas lhe preparam para lidar com situações de estresse e lhe obrigam a tomar decisões mesmo quando os elementos (o problema, a condição do paciente, os recursos disponíveis) são incertos.

Recomendo um exercício mental: você já passou por situações como as relatadas no começo deste artigo, ou ficou preocupada/o por não saber como agir em situações semelhantes? Se a resposta a uma das perguntas foi sim, recomendo que você considere fazer um treinamento de primeiros socorros, mas é de extrema importância que seja um treinamento voltado para áreas remotas. Infelizmente cursos tradicionais de primeiros socorros, normalmente voltados para áreas urbanas, não irão transmitir os conhecimentos que você realmente necessita nas montanhas. Conhecimento nunca é demais, e quanto mais bagagem você possuir (não apenas de primeiros socorros mas também de nutrição, condicionamento físico, orientação e navegação, etc.) você terá mais segurança nas montanhas e melhor será o seu aproveitamento.

Tipos de cursos e treinamentos em primeiros socorros para áreas remotas

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Diferenças entre cada nível de treinamento e como decidir qual é o melhor para você

Abaixo explico as diferenças entre os níveis de treinamento que a Wilderness Medical Associates International (WMAI) ministra, e para qual público cada treinamento se destina. Caso você se interesse em fazer um curso, recomendo que você faça uma pesquisa de mercado e procure um treinamento com uma boa reputação e referências.

Os treinamentos de primeiros socorros para áreas remotas vieram do exterior e você frequentemente irá se deparar com os termos “wilderness”, que seria o equivalente a “áreas remotas”, e “first aid”, que significa primeiros socorros.

Curso de primeiros socorros em áreas remotas WFA, WFR e WAFA.

Há 3 principais níveis de treinamento para pessoas que não são da área de saúde:

WFA – Wilderness First Aid (Primeiros Socorros de Áreas Remotas)

  • Carga horária: 16h de treinamento (outros provedores oferecem até 20h).
  • Objetivo: uma introdução aos primeiros socorros de áreas remotas, com foco na identificação e administração de problemas imediatos e suporte básico de vida (intervenções que ajudam a manter a vida como parar um sangramento ou respiração boca-a-boca), e prevenção. Boa parte do conhecimento é transmitida através de cenários de avaliação de paciente e discussões em grupo.
  • Público: para quem pratica atividades de curta duração (poucos dias) em locais de fácil acesso.

WAFA – Wilderness Advanced First Aid (Primeiros Socorros de Áreas Remotas Avançado)

  • Carga horária: 40h de treinamento (outros provedores oferecem de 36 a 40h).
  • Objetivo: um treinamento mais aprofundado, que ensina a lidar com problemas a longo prazo e transmite confiança na avaliação de paciente e no processo de tomada de decisão em campo. Exploramos todos conceitos com mais profundidade e muitas habilidades práticas com simulados (cenários de acidente realistas, com múltiplos pacientes e uma equipe de socorristas atuando em conjunto, que só terminam quando todos foram tratados e evacuados da cena). Discutimos profundamente quando e como evacuar pessoas, e abordamos métodos improvisados de remoção (não incluindo remoção que necessite estabilização da coluna).
  • Público: para quem pratica atividades com diversos dias de duração e travessias, em locais onde o acesso ao cuidado médico pode levar diversas horas ou mais do que um dia. Este curso irá lhe deixar confiante em ajudar pessoas mas também irá lhe transmitir o conhecimento necessário para evitar que você tenha problemas nas atividades na natureza.

WFR – Wilderness First Responder (Primeiros Socorros de Áreas Remotas Profissional)

  • Carga horária: 80h de capacitação (outros provedores oferecem 64 a 80h).
  • Objetivo: o mais elevado nível de treinamento de áreas remotas para pessoas que não atuam na área de saúde. Este curso vai além do cuidado de uma pessoa e expande o currículo WAFA discutindo também questões logísticas, gerenciamento de recursos, comunicação, triagem, construção de macas improvisadas e desenvolve o pensamento crítico.

Muitas pessoas que praticam atividades na natureza gostam de contar “causos” e “perrengues”. Muitos desses problemas, reafirmo, são situações que podem ser evitadas com bom preparo, planejamento e conhecimento. Costumamos pensar que “não vai acontecer comigo”, e contamos com a sorte e a ajuda dos anjinhos, quando podemos contar com a humildade e a busca por conhecimento. Não deixe o próximo caso acontecer com você!

Boas aventuras!

*Para mais informações sobre os cursos da WMAI no Brasil visite www.wildmed.com.br.

Samanta Chu
Samanta Chu

Representante no Brasil e instrutora da Wilderness Medical Associates International (WMAI Brasil), ministra cursos no Brasil e no exterior desde 2011. Possui formação de Técnico de Emergências Médicas para Áreas Remotas (WEMT – EUA), é membro benfeitor do Grupo de Resgate em Montanha (Joinville, SC) e guia profissional conduzindo grupos em atividades outdoor diversas desde 2007.

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