A urgência de promover conexões de crianças e adolescentes com a natureza

Quais lembranças afetivas você carrega da sua infância? Para muitos adultos, a conexão com a natureza faz parte dessas memórias. Desde o brincar ao ar livre, da sensação de subir em uma árvore pela primeira vez, até dezenas de atividades com elementos naturais. Experiências que, infelizmente, estão cada vez mais extintas, afastando os jovens da natureza e dificultando que eles construam lembranças assim. A substituição de experiências na natureza pelo emparedamento e pelo uso excessivo de telas gerou uma transformação radical no estilo de vida de crianças e adolescentes. Segundo a ONG Children and Nature, jovens inseridos em contextos urbanos assistem a mais de cinco horas de TV por dia e passam 90% do tempo em ambientes fechados. O tempo gasto com o brincar fora de casa é de apenas uma hora por semana. Para Maria Isabel Barros, especialista em infâncias e natureza no Instituto Alana, o emparedamento interrompeu um processo natural de desenvolvimento. “Esse confinamento ao qual as crianças estão submetidas é muito recente e tem impactos graves na sua saúde e no desenvolvimento integral das pessoas. Nós, como espécies, evoluímos do lado de fora, não apenas brincando, mas convivendo com as áreas naturais. Essa necessidade está no nosso DNA”, explica. Marina Mello, pedagoga, sócia do Colégio Ética São Carlos, no interior de São Paulo, e coordenadora de programas escolares da Outward Bound Brasil (OBB), ressalta a urgência de resgatarmos o senso de pertencimento como agentes da natureza. “Precisamos compreender que a natureza não é um recurso, a natureza somos nós.” Crianças na natureza durante o Programa OBB Kids. Foto: Outward Bound Brasil Crianças na natureza durante o Programa OBB Kids. Foto: Outward Bound Brasil

Como a desconexão com a natureza afeta crianças e adolescentes

Os impactos profundos do afastamento na natureza para a saúde física, emocional e social de crianças e adolescentes levou o jornalista Richard Louv a cunhar o termo Transtorno de Déficit de Natureza, apresentado em seu livro "A última criança na natureza". Entre os malefícios dessa desconexão estão o sedentarismo, o aumento de ansiedade e depressão, além do atraso no desenvolvimento cognitivo e emocional.

Impactos físicos do afastamento da natureza

Segundo Maria Isabel, estamos vivendo uma epidemia de miopia nas infâncias, associada a falta de oportunidade de olhar para o horizonte. Um terço das crianças brasileiras estão com sobrepeso ou já são consideradas obesas. “O esporte não é a única forma das crianças praticarem atividades físicas. Ao ar livre elas brincam, se movimentam, e isso representa uma forma importante de estarem saudáveis.” Outro problema físico acarretado pelo uso excessivo de telas diz respeito à interferência na postura de crianças e adolescentes.

Prejuízos cognitivos

As crianças estão mais hiperativas, menos focadas, o que afeta o sono, traz irritabilidade, além de perdas de vínculos sociais, já que o brincar do lado de fora é mais criativo. A psicóloga, neuropsicóloga, doutora e mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP Andrea Lorena da Costa Stravogiannis ressalta que o excesso de telas provoca atrasos no desenvolvimento cognitivo, principalmente nas interações sociais das crianças. “Quanto mais tempo se passa nas telas, menos repertório social a criança adquire, por ser uma atividade passiva.” A aquisição da linguagem e a manutenção do foco atencional, segundo a profissional, também são impactados. “Ficar preso a telas limita o vocabulário das crianças, além de dificultar a leitura de um livro ou a realização de outras atividades que exigem mais concentração”, explica Andrea.

Impactos na saúde mental e no desenvolvimento emocional

A falta de interação com a natureza pode elevar o risco de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão. “A partir dos anos 80, as crianças foram cada vez mais criadas em uma redoma de vidro, se afastando do brincar do lado de fora. A partir de 2010, com todas conectadas aos seus smartphones, a saúde mental ficou bastante prejudicada, trazendo questões como automutilação, depressão e tentativas de suicídios”, conta Andreas Martin, diretor executivo da Outward Bound Brasil (OBB), ONG que faz parte de uma rede mundial de escolas de Aprendizagem Experiencial ao Ar Livre. A nova – e triste – realidade fez com que a OBB, que chegou ao Brasil em 2000, tivesse de repensar algumas práticas aplicadas em seus programas. “Observamos que não conseguimos mais utilizar distâncias e pesos que praticávamos há 10 anos. Hoje, o vigor físico e a resiliência dos jovens são menores. Eles também estão mais fracos emocionalmente e se frustram rapidamente.”

Benefícios de experiências reais de crianças na natureza

Em seu livro, Richard Louv também argumenta que experiências na natureza são fundamentais para um desenvolvimento saudável, tanto emocional quanto físico. As atividades mais simples, como brincar na praça com a terra, areia e outros elementos naturais, além de promoverem bem-estar físico e mental, estimulam a criatividade, a imaginação, a integração com outras crianças, e ajudam a evitar casos de ansiedade e depressão. Criança na natureza durante o Programa OBB Kids. Foto: Outward Bound Brasil Criança brincando na natureza durante o OBB Kids. Foto: Outward Bound Brasil “Quando vamos com o nosso corpo para a natureza, o levamos para o ambiente para o qual ele foi desenhado. Os japoneses começaram a estudar, desde a metade dos anos 80, o que acontece fisiologicamente quando passeamos no parque ou vamos para uma floresta. Todos os indicadores de estresse, o nível de cortisol, a pressão sanguínea e a frequência cardíaca diminuem”, conta Andreas, da OBB.

Desenvolvimento de habilidades socioemocionais através das experiências na natureza

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Isabelle de Paula

Isabelle de Paula é jornalista, sócia-fundadora da DePaula Comunicação. Apaixonada por ouvir e contar histórias, atua como ghostwriter, escrevendo livros e conteúdos para diversas plataformas, e assessora de imprensa, propagando narrativas e trajetórias de pessoas, marcas e empresas. Parceira do Gear Tips, assina projetos especiais e ajuda a empresa a ganhar visibilidade na mídia.

Artigos: 19
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