Como a desconexão com a natureza afeta crianças e adolescentes
Os impactos profundos do afastamento na natureza para a saúde física, emocional e social de crianças e adolescentes levou o jornalista Richard Louv a cunhar o termo Transtorno de Déficit de Natureza, apresentado em seu livro "A última criança na natureza". Entre os malefícios dessa desconexão estão o sedentarismo, o aumento de ansiedade e depressão, além do atraso no desenvolvimento cognitivo e emocional.Impactos físicos do afastamento da natureza
Segundo Maria Isabel, estamos vivendo uma epidemia de miopia nas infâncias, associada a falta de oportunidade de olhar para o horizonte. Um terço das crianças brasileiras estão com sobrepeso ou já são consideradas obesas. “O esporte não é a única forma das crianças praticarem atividades físicas. Ao ar livre elas brincam, se movimentam, e isso representa uma forma importante de estarem saudáveis.” Outro problema físico acarretado pelo uso excessivo de telas diz respeito à interferência na postura de crianças e adolescentes.Prejuízos cognitivos
As crianças estão mais hiperativas, menos focadas, o que afeta o sono, traz irritabilidade, além de perdas de vínculos sociais, já que o brincar do lado de fora é mais criativo. A psicóloga, neuropsicóloga, doutora e mestre em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP Andrea Lorena da Costa Stravogiannis ressalta que o excesso de telas provoca atrasos no desenvolvimento cognitivo, principalmente nas interações sociais das crianças. “Quanto mais tempo se passa nas telas, menos repertório social a criança adquire, por ser uma atividade passiva.” A aquisição da linguagem e a manutenção do foco atencional, segundo a profissional, também são impactados. “Ficar preso a telas limita o vocabulário das crianças, além de dificultar a leitura de um livro ou a realização de outras atividades que exigem mais concentração”, explica Andrea.Impactos na saúde mental e no desenvolvimento emocional
A falta de interação com a natureza pode elevar o risco de problemas de saúde mental, incluindo ansiedade e depressão. “A partir dos anos 80, as crianças foram cada vez mais criadas em uma redoma de vidro, se afastando do brincar do lado de fora. A partir de 2010, com todas conectadas aos seus smartphones, a saúde mental ficou bastante prejudicada, trazendo questões como automutilação, depressão e tentativas de suicídios”, conta Andreas Martin, diretor executivo da Outward Bound Brasil (OBB), ONG que faz parte de uma rede mundial de escolas de Aprendizagem Experiencial ao Ar Livre. A nova – e triste – realidade fez com que a OBB, que chegou ao Brasil em 2000, tivesse de repensar algumas práticas aplicadas em seus programas. “Observamos que não conseguimos mais utilizar distâncias e pesos que praticávamos há 10 anos. Hoje, o vigor físico e a resiliência dos jovens são menores. Eles também estão mais fracos emocionalmente e se frustram rapidamente.”Benefícios de experiências reais de crianças na natureza
Em seu livro, Richard Louv também argumenta que experiências na natureza são fundamentais para um desenvolvimento saudável, tanto emocional quanto físico. As atividades mais simples, como brincar na praça com a terra, areia e outros elementos naturais, além de promoverem bem-estar físico e mental, estimulam a criatividade, a imaginação, a integração com outras crianças, e ajudam a evitar casos de ansiedade e depressão. Criança brincando na natureza durante o OBB Kids. Foto: Outward Bound Brasil “Quando vamos com o nosso corpo para a natureza, o levamos para o ambiente para o qual ele foi desenhado. Os japoneses começaram a estudar, desde a metade dos anos 80, o que acontece fisiologicamente quando passeamos no parque ou vamos para uma floresta. Todos os indicadores de estresse, o nível de cortisol, a pressão sanguínea e a frequência cardíaca diminuem”, conta Andreas, da OBB.Desenvolvimento de habilidades socioemocionais através das experiências na natureza
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