A CURTLO é uma empresa nacional que está no mercado desde 1993, e é referência no segmento outdoor. A marca é uma das pioneiras em produzir itens de qualidade que geram menos impacto ambiental, como bolsas de selim, mochilas, vestuários e acessórios que privilegiam bikers, montanhistas e amantes das atividades ao ar livre. Esse propósito, que se mantém firme até hoje, resulta da própria essência de seu fundador.
Fernando Oliveira, cria inquieta da natureza
Desde criança, Fernando, fundador da CURTLO, tem uma ligação natural com o meio ambiente. Como morador da zona norte de São Paulo, fez da Serra da Cantareira o seu quintal. Era lá que buscava água na fonte com seu pai e fazia trilhas. Ainda na infância, teve o primeiro contato com esportes ao ar livre. Primeiro, veio a conexão com o surf, depois o skate, o mergulho e a bike, modalidade que se tornou uma grande paixão. Na adolescência, fazia seus próprios acessórios esportivos, e durante uma viagem para os Estados Unidos, Fernando conheceu o acessório de bicicleta que mudaria sua vida: a bolsa de selim, utilizada pelos praticantes de mountain bike para carregar seus pertences durante as pedaladas.
Início da Curtlo
O empreendedorismo na área de atividades na natureza começou após Fernando se casar e se desenvolveu após o nascimento da sua filha. O desejo de estar próximo à família e a vontade de fazer algo diferente que carregasse a sua essência impulsionaram o lançamento da sua primeira linha de bolsa de selim. Sem se dar conta, Fernando criava, em 1993, a CURTLO. Nessa época, produzia, cortava, costurava e rodava as lojas de São Paulo para vender seus produtos. Desde o início, baseou-se no tripé funcionalidade, ergonomia e durabilidade para oferecer itens de qualidade para os consumidores.
Para confeccionar produtos mais sustentáveis, a CURTLO teve de educar toda a cadeia de produção
Fernando passou 20 anos estudando, viajando e avaliando os processos de fabricação de fornecedores para ter um produto que não prejudicasse o meio ambiente. Para isso, ele conta que teve de criar uma nova indústria, com um novo padrão, orientando as pessoas a produzirem matéria-prima com baixo impacto ambiental.
“Meu maior reconhecimento hoje é saber que consegui influenciar outras pessoas e mostrar que era possível. Não fazemos nada que tenda a prejudicar o consumidor e o meio ambiente e que não seja saudável para a cadeia.”
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Você sabia que o Gear Tips Club é a maior comunidade de praticantes de atividades ao ar livre do Brasil, com descontos e conteúdos exclusivos? Clique aqui e conheça nossos planos.Em nossa conversa, Fernando explicou que não trabalha com nenhum material disponível na prateleira de grandes atacadistas. “Eu tive que desenvolver uma série de fornecedores, com exceção de uma ou outra matéria-prima. Somos, por exemplo, a primeira empresa — talvez a única no Brasil — a usar tecidos livres de acabamentos que prejudicam o meio ambiente. Optamos pelo poliuretano (PU), usado no mundo inteiro por ser menos agressivo, perigoso, e ter uma qualidade melhor”. No início, o empreendedor conta que seu fornecedor torceu o nariz, já que o material era mais caro. “Adivinha com qual tecido ele trabalha hoje?”, comemora Fernando.
A preocupação em ser mais sustentável também está presente nas embalagens desenvolvidas pela CURTLO. Fernando relembra que a empresa já chegou a ter até 70 tipos diferentes de embalagens, hoje substituídas por um sistema proprietário de solapas, material gráfico utilizado para fechar pacotes, com o miolo de material reciclado e adesivos confeccionados com uma cola especial. “Nós criamos layouts que se adaptam a todos os produtos. Tiramos 100% dos acabamentos não recicláveis e não utilizamos verniz. Só trabalhamos com uma gráfica que utiliza tinta à base de água. O papel vem de fontes renováveis e tem certificação FSC, selo verde mais reconhecido no mundo”.
Outro cuidado de Fernando é com o descarte correto dos resíduos gerados pela área fabril. Todos são caracterizados e acondicionados para serem encaminhados para a reciclagem. A coleta é feita por empresas especializadas que levam todo o material para cooperativas de reciclagem. A venda de alguns resíduos, como o papelão, é revertida em benefício para os funcionários. São eles que decidem o que farão com a verba. “Já fizemos eventos internos, churrascos. Muitas vezes, eles optam por ajudar um colega que está precisando. A empresa não se beneficia com esse dinheiro. O conceito aqui não é lucrar, mas promover uma atitude”.
O maior desafio enfrentado por Fernando nesse processo de reciclagem foi encontrar o destino correto para o EVA, material termoplástico utilizado para estruturar a maioria das alças e costuras de mochilas. “A própria indústria não costuma reciclar. Diversas vezes eu mandei um caminhão de sobras de EVA para reciclagem. Eu pagava o frete! Hoje, eu contratei uma empresa que possui todas as licenças para incinerar o material. Viabilizei também, junto a uma indústria, a devolução de cones de linhas. Atualmente, se você os devolve, tem abatimento no preço final”.
Consumo consciente e responsabilidade socioambiental
“Não é sobre o que você pode comprar. É se você deve comprar. O que é essencial para você? Quanto mais você entender isso, melhor.”
A CURTLO foi uma das primeiras marcas brasileiras a utilizar o tecido cordura no Brasil, material inovador que proporciona uma qualidade superior às suas peças. Seguro, portanto, sobre a excelência e performance de seus produtos, Fernando começou a operar, logo no início, com a garantia vitalícia para preservar os produtos das linhas de mochilas e acessórios contra defeitos de fabricação. Enfrentou forte resistência do mercado, que não enxergava vantagem em oferecer esse benefício. Além disso, a empresa disponibiliza o serviço de assistência técnica permanente com custo acessível.
“Confecciono um produto de qualidade feito para durar. Se a pessoa comprou, usou pouco, e ele apresentou algum problema, por que não consertar? Descosturou, deu problema no zíper? A gente vai arrumar!”
O Programa de Reciclagem CURTLO é outra ação idealizada pela empresa para estimular o consumo consciente. A empresa recebe as mochilas usadas dos clientes, que podem vir acompanhadas com uma carta com a história de conexão do consumidor com o item, e realiza uma avaliação técnica antes do conserto. Feito isso, ela seleciona o destinatário, priorizando jovens guias nascidos em comunidades próximas a lugares turísticos. Todo o processo é compartilhado com o doador.
Além disso, Fernando estimula internamente o aproveitamento de tecidos. “Quando desenvolvemos um determinado produto que tem uma sobra recorrente de tecido, reaproveitamos para a criação de novos itens. Por exemplo, se vou cortar uma mochila e sobra um quadradinho de tecido, fazemos um organizador para evitar desperdício. O consumidor paga mais barato pelo produto”.
Mochila Curtlo – Foto: Fabio Quireli
Manifesto contra a Black Friday
Outra forma de tentar frear o comportamento excessivo de compra é a Green Friday CURTLO, lançada em 2018, como um manifesto contra a Black Friday. Nesse dia, seu e-commerce é fechado, impossibilitando que os clientes comprem qualquer produto. “O consumo exagerado afeta muita gente e não faz parte da minha estratégia comercial vender mais, mais e mais. Eu não tenho controle sobre o que um marketplace fará com o estoque dos meus produtos que ele adquiriu, mas eu não vendo nada na minha loja nesta data. Entendo que a Black Friday é uma forma de deseducar o mercado”.
Em 2023, a Green Friday foi marcada também pelo plantio de mil mudas de árvores em Delfim Moreira, uma parceria entre a CURTLO e Cristian Dimitrius, renomado cinegrafista de vida selvagem e um dos embaixadores da marca. O objetivo, segundo Fernando, é repetir a ação duas vezes por ano. “Quero melhorar a vida da comunidade onde atuo”, conta.
“Enxergo tudo o que fazemos como uma obrigação. Hoje, fala-se muito sobre responsabilidade socioambiental, mas eu sempre fiz isso de forma intuitiva. Faz parte da minha essência e da maneira como fui criado.”
Legado da Curtlo: uma marca que inspira pessoas
“A conta de ganhar tem que passar pela de dividir. Tudo, absolutamente tudo na vida da gente, é gente fazendo coisa para gente.”
O legado que a CURTLO deixa para a comunidade também é uma preocupação latente de Fernando. Uma das iniciativas sociais da empresa é o programa CURTLO NA ESCOLA, que atende crianças de escolas carentes. Em um dia de voluntariado, todos os colaboradores da CURTLO são convidados a doar algumas horas de trabalho para corte, costura, montagem e embalagem de mochilas que ajudarão essas crianças durante todo o ano letivo. As mochilas são confeccionadas com sobras de tecidos e aviamentos, obtidas a partir de toda a produção da empresa a cada ano. Ao ajudar outras pessoas, a ação sociocultural também colabora com a redução de lixo.
Ao longo de sua trajetória, a empresa também se envolveu com projetos de incentivo a atletas e guias turísticos em início de carreira, como a Copa CURTLO de escalada amadora e eventos de enduro a pé, com jovens esportistas, e o Filosofias na Montanha, idealizado para incentivar guias locais de Monteiro Lobato e São Bento do Sapucaí. “Me incomodava como as agências de turismo exploravam os destinos sem utilizar a mão de obra local. Então, promovemos um trabalho de conscientização em uma época em que não existiam redes sociais e as informações eram escassas. Sempre apoiamos as pessoas com equipamentos bons para que se desenvolvessem”.
CURTLO, uma empresa com alma
Encerrei a conversa com o Fernando Oliveira perguntando como uma empresa nacional consegue manter as suas raízes por tanto tempo, mesmo diante da concorrência acirrada com produtos importados. A resposta não poderia ser outra:
“Com o tempo, eu entendi que tanto as decisões pessoais quanto as profissionais nunca são exatamente sobre o que a gente quer, e sim sobre o que a gente não quer. Como empresário, eu sigo dizendo ‘não’ para o que eu não acredito. Como dizia meu pai: ‘O certo vai ser sempre certo, mesmo que os outros façam errado’. Fazemos o que acreditamos. Somos uma empresa com alma.”
Fernando Oliveira, fundador da Curtlo – Projeto “Curtlo na Escola”
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