Review da Calça de Trekking Quechua MH500

A calça Quechua MH500 é um dos equipamentos que mais uso no dia a dia de trilhas e viagens. Depois de passar por diversas marcas e modelos ao longo da vida, foi com ela que finalmente senti que tinha encontrado uma calça de trekking que realmente entregava tudo o que eu precisava: liberdade de movimento, respirabilidade, praticidade e um ótimo custo-benefício. Desde então, nunca mais troquei de modelo.

Comprei a minha primeira calça de montanha Quechua MH500 em 2019, em Chamonix, durante um encontro internacional da Sea to Summit. Era a versão preta com cinza. Em 2024, comprei uma segunda, azul, que se tornou minha companheira oficial nos 35 dias do Caminho Francês do Caminho de Santiago de Compostela. Ao longo de centenas de quilômetros, ela foi testada em diferentes temperaturas, terrenos e intensidades de esforço – e passou em todas as provas.

Neste review, vou detalhar as indicações de uso da calça Quechua MH500, explicar as principais características técnicas, comentar as diferenças entre a versão mais antiga (que é a que eu uso) e a linha atual, além de compartilhar minha experiência real em campo para ajudar quem está buscando uma calça de trekking confiável para hiking, trekking e peregrinações como o Caminho de Santiago.

Review da Calça Quechua MH500

Indicações de uso da calça Quechua MH500

A Quechua MH500 é uma calça desenhada para quem pratica hiking, trekking e caminhadas em montanha com uma certa regularidade. A própria Decathlon posiciona o modelo para um nível de prática intermediário – usuários que já caminham com frequência, fazem trilhas mais longas, acumulam desníveis e buscam um produto um pouco mais técnico do que as calças de entrada.

Ela é oferecida nas versões masculina e feminina, ambas com as mesmas propostas de uso e características técnicas, variando apenas no corte, na modelagem e no cinto (a masculina possui cinto e a feminina, um sistema de ajuste sem cinto).

Calça Quechua MH500 MasculinaCalça Quechua MH500 Masculina
Calça Quechua MH500 FemininaCalça Quechua MH500 Feminina

Ela se encaixa muito bem em quem:

  • faz trilhas de um dia (day hikes);
  • realiza travessias de dois ou mais dias, dormindo em abrigo ou barraca;
  • faz ou vai fazer peregrinações, como o Caminho de Santiago;
  • gosta de viajar leve, levando poucas peças de roupa e lavando durante a viagem.

Não é uma calça pensada para frio, neve ou condições de vento muito forte; nesse cenário ela funciona como primeira camada leve, combinada com segunda pele e sobreposição de outras peças. O foco principal da MH500 é ser uma calça respirável, leve, confortável e resistente o suficiente para a maioria dos cenários de trekking de três estações (primavera, verão e outono).

Sobre a Quechua e a linha MH

A Quechua é a marca da Decathlon voltada especificamente para camping, hiking e caminhadas ao ar livre em geral. Dentro do portfólio da rede, ela se destaca pela excelente relação custo-benefício, oferecendo equipamentos bem projetados e acessíveis para quem pratica atividades ao ar livre com regularidade.

No ecossistema de marcas da Decathlon, existe uma interseção natural entre a Quechua e a Forclaz, que é a marca dedicada ao trekking — especialmente trekkings de longa duração e travessias mais exigentes. Enquanto a Quechua foca em hiking e montanha em ritmo mais leve, a Forclaz entrega produtos pensados para jornadas longas, maior autonomia e ambientes mais remotos. Ainda assim, algumas categorias, como calças e jaquetas leves, acabam se complementando entre as duas marcas.

A linha MH aparece em vários produtos (calças, camisas e jaquetas) e, de forma geral, está associada à ideia de “Mountain Hiking”. No caso da calça Quechua MH500, o número indica um patamar intermediário de tecnicidade: mais recursos, tecido melhor e acabamento superior em relação aos modelos mais simples, mas sem chegar a níveis de produtos topo de linha de marcas de nicho muito específicas.

Calça Quechua MH500 FrenteCalça Quechua MH500 Frente
Calça Quechua MH500 CostasCalça Quechua MH500 Costas

Minha experiência de uso com a calça Quechua MH500

Minha relação com a calça de trekking Quechua MH500 começou em 2019. Eu já tinha testado ao longo dos anos diferentes calças de marcas internacionais e nacionais, com tecidos variados, cortes mais técnicos, versões zip-off (calça-bermuda), modelos com reforço, versões mais “lifestyle” e assim por diante. Quando experimentei a MH500 em Chamonix, gostei do caimento e principalmente da elasticidade logo no provador, mas não imaginava que ela acabaria se tornando praticamente minha calça “oficial” de trilhas e viagens.

De lá para cá, usei essa calça em:

  • trilhas curtas e caminhadas urbanas em viagens;
  • travessias de fim de semana;
  • trekkings mais longos em montanha, como os 15 dias no FEAL Serra do Cipó, da Outward Bound Brasil;
  • viagens onde precisei de uma peça versátil, que funcionasse tanto na trilha quanto em deslocamentos, restaurantes simples e deslocamentos de avião ou ônibus.

O grande teste, no entanto, foi em 2024, quando levei a MH500 azul como calça principal para o Caminho de Santiago. Foram 35 dias seguidos caminhando, quase 800 km, com variações de temperatura, vento, sol, poeira, subidas longas e descidas fortes. A calça aguentou tudo: não rasgou, não deformou, não perdeu elasticidade e continuou confortável até o final.

Existe também uma versão zip-off (calça modulável, como descrito pela Decathlon), que se transforma em bermuda. Eu tenho esse modelo, gosto dele e já usei bastante em outras viagens. No Caminho de Santiago, levei as duas calças: a versão tradicional e a zip-off. A calça regular era a que eu usava para caminhar praticamente todos os dias, enquanto a zip-off acabou assumindo um papel mais estratégico. Eu a utilizava principalmente para dormir, para os momentos de descanso nos albergues e, em alguns dias, como segunda opção, quando precisava lavar a calça principal. Ela cumpriu muito bem esse papel de “calça reserva”, mas, para caminhar longas distâncias, sigo preferindo a versão tradicional, que é mais silenciosa ao caminhar e um pouco mais leve.

Pedro com a calça Quechua MH500 no Caminho de SantiagoCalça Quechua MH500
Pedro com a calça Quechua MH500 Modulável no Caminho de SantiagoCalça Modulável Quechua MH500

Conforto e liberdade de movimento

Se eu tivesse que escolher apenas um motivo para recomendar a MH500, seria a liberdade de movimento. O tecido principal mistura 85% poliamida com 15% elastano, em um tecido bi-stretch que estica em duas direções. Isso, aliado ao corte bem pensado e aos joelhos pré-moldados, faz com que a calça acompanhe perfeitamente os movimentos de subida, agachamento, passos largos e trechos técnicos de trilha.

Ao caminhar o dia inteiro, a diferença entre uma calça que “acompanha o corpo” e outra que prende nos joelhos, aperta na coxa ou puxa na cintura é enorme. No caso da calça Quechua MH500, sinto que ela some no corpo: nada incomoda, nada fica sobrando e nada limita o movimento. Para quem faz travessias longas ou peregrinações, isso é um ponto importante.

O corte é descrito pela própria Decathlon como “skinny” ou “ligeiramente estreito”. Isso significa que ela fica mais justa no corpo, em comparação às calças de trekking tradicionais com corte reto. Por isso, em muitos casos, vale considerar comprar um número acima do habitual para manter o conforto, especialmente se você tem coxas mais grossas ou prefere um caimento menos justo. Mas o fundamental é experimentar antes de comprar.

Respirabilidade e secagem rápida

Outro ponto em que a calça Quechua MH500 se destaca é na combinação de respirabilidade e secagem rápida. O tecido sintético leve ajuda na evaporação do suor com eficiência, evitando aquela sensação de umidade constante mesmo quando o esforço é alto.

No Caminho de Santiago, essa característica fez diferença diariamente. Como eu estava viajando com poucas peças de roupa, a rotina era simples: caminhava o dia inteiro, chegava ao albergue, tomava banho e colocava a calça reserva. E, periodicamente, lavava a calça suja. Na manhã seguinte, ela já estava seca e pronta para mais um dia de caminhada. Em algumas situações de clima mais úmido, demorou um pouco mais para secar completamente, mas nada que atrapalhasse o uso. Em alguns casos, também usei a secadora do albergue, o que hoje em dia é bem comum no Caminho de Santiago.

A própria Decathlon indica em seu site na Espanha um índice de 3/5 em respirabilidade para o produto, o que condiz com a minha experiência em campo: não é uma calça ultrafina de verão absoluto, mas ventila bem o suficiente para caminhadas em clima quente, especialmente quando você está em movimento e há circulação de ar.

Bolsos, ajuste e praticidade

Sou fã de calças com bolsos funcionais, e a Quechua MH500 acerta bem aqui. O modelo conta com quatro bolsos com zíper: dois tradicionais para as mãos e dois na região das coxas. Para hiking, trekking e outras atividades, isso é extremamente prático.

Durante as caminhadas, costumo distribuir ali celular, documentos e dinheiro (se estiver na cidade), lenços, barras de cereal, pequenos lanches e outros itens que preciso ter à mão. O fato de todos os bolsos terem fechamento em zíper traz segurança: posso caminhar em terreno inclinado, sentar no chão ou me abaixar para ajustar algo sem medo de ver um objeto importante rolar morro abaixo.

Calça Quechua MH500 MasculinaBolso para as mãos
Calça Quechua MH500 Bolso na CoxaBolso na coxa

Outro detalhe que faz diferença é o cinto integrado. A calça já vem com um cinturão leve, e a cintura é semi-elástica, o que ajuda muito na hora de ajustar o caimento, principalmente em longos períodos de viagem em que o peso corporal pode variar. Em alguns modelos mais recentes, a Quechua usa uma faixa interna siliconada na cintura para evitar que a calça escorregue, o que melhora ainda mais a estabilidade. Na versão que tenho, a fivela do cinto é metálica, mas vi recentemente alguns modelos com fivela plástica.

Os tornozelos ajustáveis permitem afinar a barra da calça quando necessário, seja para evitar que encoste demais no calçado, seja para melhorar a ventilação ou até para facilitar o uso com meias mais altas.

Cintura semi-elásticaCintura semi-elástica com cinto
Ajuste na barra da calçaAjuste na barra da calça

Características técnicas da calça Quechua MH500

A linha é atualizada periodicamente em cores e pequenos detalhes, mas as bases técnicas da calça de trekking Quechua MH500 masculina permanecem muito próximas do modelo que uso desde 2019. Em resumo, temos:
Composição do tecido principal: 85% poliamida, 15% elastano

  • Forro de bolso: 100% poliéster;
  • Cintura: normal, semi-elástica com silicone, cinto integrado destacável;
  • Corte: ajustado (slim/skinny), pensado para liberdade de movimento;
  • Bolsos: quatro bolsos com zíper, sendo dois frontais e dois nas coxas;
  • Comprimento: calça longa;
  • Proteção climática: não é impermeável e não é corta-vento; o foco é respirabilidade e conforto;
  • Sistema de ventilação: não possui aberturas extras, a ventilação vem do próprio tecido;
  • Cores: dependem de país para país. Atualmente, no Brasil, existem calças nas cores preta e azul, mas isso pode mudar.

Do ponto de vista de manutenção, a calça é de cuidado simples: a recomendação do fabricante é lavagem em máquina a 30 ºC, secagem rápida e praticamente nenhuma necessidade de passar ferro. Em uma rotina de viagem, isso é fundamental.

Pontos fortes da calça Quechua MH500

Falando como usuário que está com o mesmo modelo há anos, alguns pontos se destacam:

A elasticidade é um dos grandes trunfos. O tecido bi-stretch, somado ao corte anatômico, oferece uma liberdade de movimento que realmente faz diferença em trilhas técnicas.

A respirabilidade e a secagem rápida tornam a calça muito prática para viagens longas, travessias e peregrinações, especialmente quando você precisa lavar e reutilizar em sequência.

Os quatro bolsos com zíper são extremamente funcionais e trazem segurança para armazenar itens importantes na trilha, sem risco de perda.

A durabilidade impressiona. Minha calça de 2019 (preta e cinza) segue em uso, mesmo depois de trilhas, viagens e muitas lavagens. O tecido não esgarçou, a elasticidade continua boa e as costuras resistiram muito bem. A que comprei em 2024 (azul) já tem mais de 1500 km acumulados e só perdeu um pouco da cor.

Por fim, o custo-benefício é excelente. Embora seja um produto intermediário dentro da própria Decathlon, o desempenho que ela oferece se aproxima de calças de trekking mais caras de marcas especializadas.

Pontos de atenção e limitações

Nenhum equipamento é perfeito para todas as situações, e com a calça Quechua MH500 não é diferente.

O primeiro ponto a considerar é o corte mais justo. Quem prefere calças largas ou tem coxas e quadris maiores pode achar o modelo um pouco apertado, especialmente se comprar o tamanho habitual de calças do dia a dia. A recomendação é experimentar com calma e, se necessário, optar por um número maior. Mas, com a elasticidade do tecido, diria que isso não é um problema. Resolvi colocar esse ponto de atenção só para deixar claro que o modelo é mais justo.

Outro ponto é que a MH500 não é uma calça impermeável nem corta-vento. Para chuva e vento mais fortes, ela deve ser combinada com uma calça impermeável e, no frio, usar uma segunda pele. Mas, de novo, isso não é um problema. No Sistema de Camadas, ela é uma primeira camada e desempenha seu papel de gerenciamento de umidade de forma muito eficiente. Mais uma vez, fiz questão de colocar isso, pois existe o modelo MH 500 Impermeável.

Por fim, ela não possui reforços específicos em áreas de maior atrito, como joelhos e traseiro. Na prática, isso não foi um problema para mim, mesmo com uso intenso, mas é algo a considerar se você costuma passar muito tempo sentado em rocha abrasiva ou se arrastando em terreno mais agressivo.

Para quem a calça Quechua MH500 vale a pena?

Na minha opinião, a calça de trekking Quechua MH500 é uma excelente escolha para:

  • quem está planejando o Caminho de Santiago ou outra peregrinação longa e quer uma calça versátil, respirável e de secagem rápida;
  • praticantes de hiking e trekking que buscam um modelo confortável;
  • viajantes que gostam de levar poucas peças de roupa e valorizam peças leves, resistentes e fáceis de lavar;
  • quem quer entrar no universo das calças técnicas de montanha sem investir imediatamente em modelos bem mais caros de marcas de nicho.

Para situações de frio extremo, escaladas técnicas ou neve, eu buscaria uma calça com reforços específicos, proteção térmica maior ou combinação com sistemas de camada mais robustos. Mas para o uso que a grande maioria dos praticantes de trekking faz, a MH500 atende muito bem.

Conclusão

Depois de muitos anos testando diferentes calças de trekking, posso dizer com tranquilidade que a calça Quechua MH500 se tornou a minha principal referência em termos de conforto, mobilidade e praticidade. Foi com ela que caminhei quase 800 km no Caminho de Santiago, é com ela que tenho feito diversas caminhadas e travessias nos Pirineus e é ela que coloco na mochila sempre que vou para uma aventura mais longa. Na maior parte das vezes, quando preciso de uma calça leve, resistente e confiável para qualquer atividade ao ar livre, a MH500 acaba sendo a escolhida.

Ela não é impermeável, nem pretende competir com modelos ultratécnicos para uso extremo, mas cumpre com sobra o papel de calça para hiking e trekking de três estações. Oferece excelente liberdade de movimento, boa respirabilidade, secagem rápida, bolsos realmente funcionais e um custo-benefício difícil de superar.

Se você está procurando uma calça para hiking, trekking ou para o Caminho de Santiago, que possa acompanhar você por muitos anos, a Quechua MH500 é, sem dúvida, um modelo que merece entrar seriamente na sua lista de opções.

Onde encontrar

A calça Quechua MH500 pode ser encontrada tanto nas lojas físicas da Decathlon quanto no site oficial da marca. A Decathlon costuma atualizar periodicamente os links dos produtos, então, caso algum dos endereços abaixo não funcione, basta pesquisar por “Calça MH500” no campo de busca.

Aqui estão as versões disponíveis:

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Pedro Lacaz Amaral

Pedro Lacaz Amaral pratica atividades ao ar livre desde os anos 1980. Cursou Engenharia Química e Administração, com especialização em Marketing e BI. Esteve à frente no Brasil da CamelBak, Deuter, Sea to Summit e de outras marcas importantes por mais de duas décadas. Treinou mais de 14.000 pessoas em equipamentos para camping, hiking, trekking e trail running. Idealizou o Gear Tips em 2016, o Programa de Reciclagem de Cartuchos de Gás (vencedor do UIAA Mountain Protection Award 2023) e o Programa CAPACITAR (Gold Standard Program pela Leave No Trace em 2025 e finalista do UIAA Mountain Protection Award 2025). Seu propósito é colaborar na capacitação de profissionais e praticantes de atividades ao ar livre.

Artigos: 247

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