Se você já se perguntou como escolher o tênis ideal para corrida e como ele pode impactar no seu desempenho, vou te contar sobre o Tênis Test realizado no CAFT – Centro de Avaliação Física e Treinamento.
Sou Fernanda May, médica do esporte e atleta amadora, apaixonada por montanhismo e, mais recentemente, pelo trail running. Meu amor pela corrida começou em 2022, e meu primeiro grande desafio foi a prova El Cruce, onde percorri 100 km em três dias nas trilhas desafiadoras da Patagônia Argentina. Desde então, me apaixonei pelo esporte e tenho me dedicado a evoluir cada vez mais. Participei de diversas provas no Brasil e pela América do Sul, e até consegui pódio em algumas delas, o que só aumentou minha vontade de continuar progredindo.
Para melhorar minha performance e corrigir pontos que possam estar limitando meu potencial, decidi me aprofundar na minha técnica e procurar uma avaliação completa. Assim, fui ao CAFT, onde realizei o Tênis Test para entender melhor minhas deficiências e ajustar minha preparação. Neste artigo, vou compartilhar com vocês o processo e os aprendizados que surgiram dessa experiência – afinal, a escolha do tênis certo pode fazer toda a diferença, mas só quando ajustada às necessidades de cada corredor.
Objetivo do Tênis Test
O Tênis Test tem como propósito avaliar a interação entre o corredor e o calçado, identificando qual modelo se adapta melhor à biomecânica de cada pessoa.
Diferente de avaliações tradicionais, o Tênis Test mostra que o “melhor tênis” é algo individual, como um “sapato da Cinderela” que deve se encaixar com precisão nas características e necessidades de cada corredor.
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Você sabia que o Gear Tips Club é a maior comunidade de praticantes de atividades ao ar livre do Brasil, com descontos e conteúdos exclusivos? Clique aqui e conheça nossos planos.Além disso, ele vai mostrar as deficiências do corredor e onde ele precisa trabalhar para que seu desempenho seja melhor.
Como é feito o Tênis Test (equipamentos utilizados)
Para realizar o Tênis Test, a equipe do CAFT utiliza um conjunto avançado de equipamentos que permite uma análise precisa da biomecânica do atleta. Entre os equipamentos e métodos utilizados, destacam-se.
- Acelerômetro de alta resolução: colocado na região da pelve, este sensor tem a capacidade de medir indicadores cinemáticos e cinéticos durante a corrida.
- Sensores fotoelétricos: são barras de 1 metro colocadas ao lado da esteira com objetivo de medir indicadores espaço temporais.
- Filmagens de Alta Resolução: para complementar os dados, as corridas são filmadas em alta resolução, permitindo que o atleta e a equipe revisem a técnica de forma visual.
Parâmetros Avaliados no Tênis Test
No Tênis Test, o objetivo é avaliar o tênis em conjunto com o atleta, medindo como as características do calçado — como impacto, estabilidade e simetria — se comportam no contexto da dinâmica de corrida individual.
Como a avaliação é personalizada, ela leva em consideração tanto as características do tênis quanto as particularidades do corredor. Abaixo, correlaciono os parâmetros avaliados com os indicadores de eficiência e adequação do calçado:
- Impacto Vertical: esse indicador mede a força que o corpo recebe a cada passada durante a corrida. O impacto vertical é crucial, pois um tênis com boa absorção de impacto pode reduzir o estresse nas articulações, especialmente em longas distâncias. No entanto, mesmo um tênis com excelente capacidade de absorção, como o Speed Goat 5 da Hoka, pode não ser ideal para um corredor cuja técnica de corrida coloca pressão extra em áreas específicas, como joelhos ou quadris. Por exemplo, um corredor que aterrissa com mais força sobre o calcanhar pode precisar de mais amortecimento na parte traseira do tênis, enquanto um corredor que utiliza mais o médio pé pode se beneficiar de um tênis que distribua o impacto de forma mais uniforme. Mas é importante salientar que a melhor forma de reduzir o impacto é a ativação e fortalecimento de musculaturas como o tríceps sural e o quadriceps
- Estabilidade Dinâmica e Controle Motor: a estabilidade dinâmica mede principalmente à queda pélvica durante a corrida. Quedas excessivas podem levar a compensações do tronco ou dos membros inferiores. Para alguns corredores, tênis com características de estabilização podem ajudar na diminuição excessiva do quadril.
- Simetria Entre os Lados: a simetria entre os lados indica se há compensação nos indicadores de impacto vertical, duração de impacto, tempo de contato e na instabilidade dinâmica do quadril
Modelos de tênis testados
Para o Tênis Test, selecionei cinco modelos aleatórios de marcas renomadas que eu costumo usar nos treinos e provas. Cada um com características específicas de amortecimento, estabilidade e adaptação ao terreno. Um deles, inclusive, não é específico de trail running. Abaixo estão os tênis que testei:
- Tênis 1: Sense Ride 5 da Salomon
- Tênis 2: Wild Horse 8 da Nike
- Tênis 3: Montrail Trinity FTK da Columbia
- Tênis 4: 2002R da New Balance
- Tênis 5: Speed Goat 5 da Hoka
O objetivo foi identificar qual tênis que eu utilizo regularmente se adapta melhor à minha corrida e, a partir disso, compreender os ajustes e melhorias que posso fazer para otimizar minha performance.
Análise detalhada dos modelos testados
Tênis New Balance 2002R
Eficiência Geral: Este modelo obteve a maior eficiência de corrida para mim, com uma taxa de 34%. O New Balance 2002R se mostrou bem adaptado ao meu estilo, fornecendo suporte estável. Projetado como um tênis híbrido para uso em diferentes tipos de terreno, ele é mais robusto, o que o torna um pouco mais pesado. O modelo incorpora as tecnologias ABZORB e N-ergy, que garantem boa absorção de impacto e retorno de energia.
Estabilidade Dinâmica: O tênis apresentou boa estabilidade, embora eu tenha tido um tempo de contato maior no solo com o lado esquerdo. Esse detalhe, somado ao peso do tênis, pode ter contribuído para o aumento do tempo de contato, especialmente em subidas, onde acabo pisando mais com o pé inteiro.
Impacto e Simetria: Apesar do desempenho positivo, o impacto não foi distribuído uniformemente, sendo maior do lado esquerdo. Isso sugere que eu poderia beneficiar-me de ajustes na técnica ou de um trabalho específico de fortalecimento desse lado para compensar essa diferença.
Tênis Salomon Sense Ride 5
Eficiência Geral: Com 26% de eficiência, este foi o modelo menos eficiente para mim. Embora seja um tênis popular para trilhas, o Sense Ride 5 mostrou-se menos adaptado ao meu estilo de corrida.
Estabilidade Dinâmica e Impacto: Ele apresentou baixa estabilidade dinâmica e uma carga de impacto mais alta, o que indica que esse modelo não proporciona o suporte necessário para minimizar as forças de impacto nas minhas articulações.
Simetria: Curiosamente, o tênis ofereceu uma simetria razoável entre os lados, mas, devido à maior carga de impacto e tempo de contato prolongado, ele acabou não sendo o mais adequado para mim.
Tênis Columbia Montrail Trinity FTK
Eficiência Geral: Apresentou uma eficiência semelhante à do New Balance 2002R, mas com menor estabilidade dinâmica, ficando em segundo lugar.
Estabilidade Dinâmica: Embora confortável, senti que a estabilidade era levemente inferior, o que pode não ser ideal para quem busca mais suporte em terrenos variados.
Impacto e Simetria: O Montrail apresentou uma assimetria significativa de 22%, com uma leve diferença na magnitude do impacto entre os lados. Isso mostra que, embora confortável, ele talvez não ofereça o suporte uniforme e a estabilidade que preciso.
Tênis Nike Wild Horse 8
Eficiência Geral: Com 28% de eficiência, achei este tênis confortável, mas ele apresentou algumas limitações na avaliação técnica.
Estabilidade e Tempo de Contato: O Wild Horse aumentou meu tempo de contato com o solo, o que pode reduzir minha eficiência de corrida. Por ter uma base mais estreita, senti uma leve insegurança ao usá-lo, especialmente considerando minha vulnerabilidade no tornozelo direito devido a uma cirurgia anterior.
Simetria: A análise de simetria mostrou que este modelo não era o ideal para mim, pois impactou diretamente minha segurança e performance ao aumentar o tempo de contato com o solo.
Tênis Hoka Speed Goat 5
Eficiência Geral: Este modelo ficou na média, com uma taxa de eficiência de corrida de 30%.
Estabilidade e Conforto: Embora seja confortável e popular em trilhas, o Speed Goat 5 não foi o mais eficiente para mim, já que eu preciso de mais estabilidade e suporte. A análise revelou que ele ajudou a reduzir o tempo de contato com o solo e melhorou levemente a simetria, mas ainda não alcançou o nível dos modelos mais adequados.
Simetria e Impacto: O Hoka proporcionou uma simetria um pouco melhor entre os lados, sugerindo que ele pode ser mais adequado para alguém com uma mecânica de corrida mais equilibrada.
Considerações finais: a escolha do tênis ideal para corrida e o papel da mecânica
Os resultados do Tênis Test deixaram claro para mim que o tênis ideal para um corredor depende não apenas das características do calçado, mas também da biomecânica individual de cada pessoa.
No meu caso, os testes indicaram a necessidade de ajustes na técnica e fortalecimento muscular para que eu possa tirar o máximo proveito dos tênis escolhidos, visto que com nenhum deles alcancei os parâmetros desejados. Meu tempo de contato com o solo e a assimetria nos resultados não dizem respeito ao tênis e sim a deficiências que preciso trabalhar. O plano de reabilitação sugerido pelo CAFT foca em melhorar minha estabilidade, simetria e fortalecimento de grupos musculares específicos, com objetivo de promover uma evolução contínua na eficiência da minha corrida.
A surpresa final foi que o único tênis não específico para trail running, categorizado até como “life style”, o New Balance 2002R, foi o que apresentou melhor absorção de impacto e eficiência geral para mim. Isso demonstra como as características individuais são preponderantes em relação ao tênis. Porém levantamos a questão que utilizar um tênis não específico para o terreno não é recomendado, pois a falta de grip e cabedal adequado podem resultar em quedas e lesões.
Combinar o treino certo com o tênis adequado é, sem dúvida, a melhor forma de potencializar a performance e evitar lesões. Mas trabalhar na mecânica da corrida, no reforço muscular específico, na estabilidade e simetria da incidência de forças é o que torna sua corrida mais eficiente e segura, tornando o tênis um fator de soma e não o mais importante.
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