Culinária Outdoor ou Comida da Montanha?

Quando você lê “Culinária Outdoor ou Comida da Montanha”, o que você pensa ou lembra? Aquela antiga referência com o clássico miojão de acampamento com salsicha e extrato de tomate ficou para trás? Agora vem na mente as comidas em pó cheia de tecnologia em saquinhos identificados… Um fogo de chão criollo… O Francis Mallmann preparando direto no fogo, no meio da neve patagônica? Quem sabe uma fogueira iniciada com pederneira com resina vegetal extraída na hora sobre um pedacinho de couro? Ou uma tocha sueca na beira de um rio de água transparente? Certamente vem um daqueles preparos instagramáveis com ASMRs perfeitos (aqueles sons de dar arrepio e fazer a gente ficar preso nos vídeos)…

As paisagens mentais são infinitas quando pensamos em culinária “fora de casa”, ainda mais quando estamos conectados no cotidiano com as redes sociais. Os exemplos acima não refletem nem uma trilionésima parte dos conteúdos inspiracionais sobre o assunto. Tanto o Instagram quanto o TikTok, as duas redes sociais mais usadas hoje em dia, estão abarrotadas de fotos e vídeos feitos ao redor no mundo por diferentes pessoas e idades. Todas as cozinhas estão ao ar livre! E basta o algoritmo entender que gostamos disso para nos entregar muito conteúdo que nos pode nos prender por horas deslizando o dedo na tela dos nossos smartphones!

Foto: Felipe Carneiro / @fcarneirophoto #expedicaofloresal

Mas por que isso acontece? A resposta pode estar bem distante da nossa realidade! O fogo é encantador, comida preparada no fogo é sexy, amamos a liberdade e a toda a chance de escapar das nossas rotinas e todos nós iremos concordar com isso!

O fogo traz também sentimentos de proteção, de ancoragem, de segurança, de conforto. O fogo está ligado com a nossa ancestralidade! Nossa relação com ele tem mais de 2 milhões de anos! E muitos historiadores acreditam que somos o que somos hoje por causa dele, sendo o fogo responsável até pela nossa capacidade de fala, nossa evolução.

Com o domínio do fogo, veio o cozimento dos alimentos. Isso reduziu consideravelmente o tempo que ficávamos mastigando raízes e sementes, fornecendo tempo e uma melhor dieta, principalmente rica em gordura e proteína animal. Alguns artigos relatam que isso são fatores consideráveis para o surgimento da fala, do raciocínio, do desenvolvimento no campo das ideias, do surgimento dos aspectos culturais.

Foto: Felipe Carneiro / @fcarneirophoto #expedicaofloresal

O fogo e a busca em dominar seu uso no preparo de alimentos permitiu criar e aprender outros preparos de cozimento: passamos a ferver, assar, fritar, usar o vapor para deixar tudo mais digesto. Aprendemos a preservar a caça através da defumação. Alimentos são cozidos neste planeta há mais de 800.000 anos! Antes da nossa espécie aparecer, já rolavam uns rangos ao redor do fogo por aí entre outros hominídeos!

Se olharmos o mundo contemporâneo, sabemos onde a culinária chegou, com todas as estrelas possíveis de serem disputadas, técnicas e tecnologias. Apesar disso tudo, também não podemos deixar de perceber que para alegrar um humano faminto bastam um braseiro bem vermelho, um bom naco de carne, uns cogumelos graúdos, alho, cebolas e pimentões tostados, uma água fervendo com sal e um pacote de macarrão qualquer. Só ler isso já nos faz salivar, não é mesmo?

Foto: Felipe Carneiro / @fcarneirophoto #expedicaofloresal

Uma conversa sobre fogo, culinária e a cozinha outdoor

Esses parágrafos anteriores são apenas um recorte preguiçoso sobre muito do que falaremos nesta coluna sobre culinária outdoor. Falaremos sempre de fogo e o que está ao redor dele. O que pode ser preparado, sendo ele de gás butano dos fogareiros de aventura ou de fonte vegetal, lenha ou carvão. Falaremos sobre as diferenças, equipamentos específicos, sobre checklists, tecnologias, e técnicas de preparo. Dos cuidados e receitas novas para cada tipo de aventura: uma escapada de final de semana num local com estrutura e de fácil chegada, um trekking de 3 dias, um hiking com amigos, o que sempre ter em mão independente da aventura. Falaremos sobre o que levar, como transportar, como preparar. Traremos para cá informações sobre a água a ser utilizada, sobre o descarte dos resíduos orgânicos e secos, sobre PANCs (plantas alimentícias não convencionais), FANCs (fungos alimentícios não convencionais), alimentos fermentados, pré-preparados. Será um espaço que trataremos muito sobre saúde, que é o eixo que une a montanha e a culinária: um convite para respirar no momento presente, a relação com a saúde física, mental, emocional… Aqui discutiremos sobre comer, se alimentar e se nutrir!

Foto: Felipe Carneiro / @fcarneirophoto #expedicaofloresal

Nosso tempo será sempre uma espécie de lacuna, um espaço entre tantos acontecimentos. Aspiro que sejam encontros com calor, sal, gordura, acidez, crocância, picância e o amor atento necessário para que tudo corra melhor.

Neste breve texto apresentamos algumas ideias e motivações. Hoje juntamos os gravetos, galhos e troncos mais grossos para começar a nossa fogueira e nossos preparos!

Foto: Felipe Carneiro / @fcarneirophoto #expedicaofloresal

Eu sou o Fafá Flores, familiarizado com o fogo há mais de 35 anos, há 4 anos cozinhando por aí, sem paredes e sem teto, entendendo o vento e meus movimentos. Meu perfil no Instagram é @fafaflores78 e minhas principais hashtags são #expedicaofloresal e #saboresentremontanhas. Estamos criando também um espaço de troca! Então, manda DM pra gente que desenrolamos os papos!

Grande abraço!