Até 2015, o mineiro Jeff Santos levava uma vida urbana e noturna, distante de qualquer perfil esportivo. Suas primeiras experiências caminhando foram o Caminho da Fé, após um quadro de depressão, e a Estrada Real, percurso de 1.200 km entre Diamantina e Paraty.
Dez anos depois, ele se tornou o primeiro brasileiro não expatriado a completar a Tríplice Coroa das trilhas de longa distância norte-americanas, somando mais de 12.000 km nas trilhas Appalachian Trail (AT), Pacific Crest Trail (PCT) e Continental Divide Trail (CDT), concluída em outubro de 2025.
Sua conquista é um marco histórico para o Brasil no cenário internacional de caminhadas de longa distância. Segundo a Associação Americana de Caminhadas de Longa Distância, apenas cerca de 700 pessoas no mundo alcançaram esse feito.
Com altitudes que vão do nível do mar a mais de 4.000 metros, climas extremos e extensos trechos remotos, as três trilhas exigem não apenas resistência física, mas também preparo emocional e planejamento logístico. Ao longo dos 369 dias de jornada, Jeff atravessou montanhas e desertos, enfrentou neve, calor intenso, raios e tempestades, e avistou de perto a vida selvagem: alces, raposas, lobos, veados, 26 ursos, entre outros animais.
Diante de tantos desafios, adversidades e desconfortos, ele guarda lembranças marcantes, como o momento em que, ao abrir a barraca, se deparou com dois alces brincando, ou o encontro inesperado com uma ursa e seu filhote cruzando o caminho. “Com aquelas patas e garras enormes, eles poderiam facilmente me atacar, se quisessem. Mas, quanto mais eu aplicava o que aprendi no manual de segurança, como fazer barulho para avisar minha presença, mais eles me ignoravam. O mesmo aconteceu com um lobo: ele apenas me olhou e seguiu para a floresta.”
Citando o verso “Mundo, mundo, vasto mundo”, de Carlos Drummond de Andrade, Jeff reflete sobre a própria existência diante de tudo o que viveu: “Percebi que não somos nada nesse mundo. Prefiro olhar as montanhas de baixo para cima, porque isso me faz lembrar da minha insignificância. O que sou eu diante delas, das florestas e do deserto?”.
A imprevisibilidade dos caminhos e do clima obrigavam Jeff a tomar decisões, pausar, aguardar, o que reforçou o seu respeito pela natureza e pelos animais, além do seu olhar para questões cotidianas. “Quando você entra em um modo primitivo de sobrevivência, pensando se a comida e a água serão suficientes, qual o melhor local para descansar, você passa a valorizar mais o banheiro da sua casa, a luz elétrica, os meios de transporte.”
A jornada de Jeff Santos rumo à Tríplice Coroa
2017: Appalachian Trail (AT)
Cerca de 3.540 km, cruzando 14 estados do leste dos EUA em 131 dias.

Essa foi a primeira experiência de trekking da vida de Jeff Santos. Ao descobrir que apenas uma brasileira com cidadania americana havia completado o percurso, ele decidiu se preparar e partir em busca da primeira etapa da Tríplice Coroa.
Com um trajeto marcado por umidade constante, subidas e descidas diárias e chuvas intensas, que chegaram a durar duas semanas seguidas, Jeff testou seus limites físicos e mentais.
A experiência inspirou o livro “Appalachian Trail: Cruzando os Estados Unidos a Pé”.
2019: Pacific Crest Trail (PCT)
Cerca de 4.275 km, do México ao Canadá, passando por Califórnia, Oregon e Washington, em 127 dias.

A segunda trilha da Tríplice Coroa ficou marcada por um acidente que quase lhe custou a vida. Diferente da Appalachian Trail, a Pacific Crest Trail é conhecida pelas altas montanhas e pelo clima extremo.
Durante a travessia do Monte Whitney, ponto mais alto da zona continental dos Estados Unidos, Jeff escorregou e caiu na montanha, sobrevivendo graças aos equipamentos adequados para neve, uma pedra que interrompeu sua queda e o acionamento do SPOT. Horas depois, foi resgatado por uma equipe de emergência.
Naquele ano, a Sierra Nevada registrou o maior índice de neve em décadas, o que causou outros dois acidentes, e Jeff foi o único sobrevivente.
Apesar do susto, ele concluiu a jornada e transformou a experiência no livro “Pacific Crest Trail: O diário de uma travessia do México ao Canadá”.
2025: Continental Divide Trail (CDT)
Cerca de 4.231km, da fronteira com o Canadá ao Novo México, percorridos em 119 dias.

Conhecida entre os caminhantes de longa distância pelo lema “Embrace the brutality” (Abrace a brutalidade), a CDT é considerada a mais exigente das três trilhas da Tríplice Coroa. O trajeto inclui o deserto árido do Novo México, longos trechos isolados de qualquer cidade e áreas habitadas por ursos pardos, leões da montanha e lobos.
Para percorrer a terceira trilha da Tríplice Coroa, Jeff foi mais precavido. Suas principais preocupações eram a neve, a presença de ursos pardos, ausentes nas outras trilhas, e raios frequentes. Além disso, diferente das duas trilhas anteriores, a Continental Divide Trail possui diversas rotas: “Eu estava muito mais ciente dos riscos que poderia correr e resolvi trilhar por um caminho que considerei mais seguro diante das condições climáticas. Escolhi não fazer alta montanha”, conta Jeff.
A solitude e a liberdade lhe proporcionaram pausas em locais não planejados para contemplar a natureza e aguçaram a sua criatividade. Com o auxílio de um bloco de notas, Jeff idealizou novos projetos – um deles é o seu novo livro, que completará a trilogia da Tríplice Coroa.
Enquanto a obra não é lançada, você pode conferir como foi o dia a dia de Jeff Santos na Continental Divide Trail, em seu canal do Youtube.
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