Caminhos de Rosa – 250km pelo Sertão Mineiro

Quando a Caminhos de Rosa foi idealizada, em 2014, queríamos fazer algo diferente, havia uma história ali que precisava ser contada, vivida! Queria que os atletas compartilhassem da rotina, dos hábitos, das pessoas que ali vivem há anos. Não queria que fosse mais um lugar turístico, aonde as pessoas chegassem e tivesse tudo preparado para elas, algo tão corriqueiro no nosso país.

Não tinha a menor ideia do desafio que enfrentaria, mas era algo que eu via acontecer no mundo todo, e pouco por aqui, por alguma razão tenho a sensação de sempre ver algo que não é a rotina e hábito dos habitantes locais. É tão bom quando correndo, pelo mundo, uma comunidade oferece o que ele come para nós!?

Já refleti muito sobre isso e ora acredito que tentamos esconder quem somos, nosso tesouro, mas descobri, que na maioria das vezes, buscamos sempre o que falta, e pouca vezes, olhamos nossas riquezas e potenciais, por isso sempre temos que nos preparar para receber as pessoas, seja em nossa casa, ou seja em um evento! Queria um evento diferente!

Este ano completamos 10 anos de existência, durante estes anos nos consagramos como o evento de corrida mais difícil do Brasil, tanto a pé como os desafios sobre rodas! Não era algo que queríamos, mas como somos reconhecidos pelos atletas que aqui já estiveram. Queríamos mesmo era que o evento fosse do sertanejo.

Percorremos os 250 km que Guimarães Rosa percorreu na sua única experiência documentada no sertão de Minas Gerais, uma experiência que ele documentou no seu diário, e que tentamos seguir desde 2014. Mudamos alguma coisa da trilha original, algumas fazendas não temos autorização, estradas que mudaram de lugar, cidades que surgiram e que respiram cultura sertaneja e que não poderiam ficar de fora.

Durante estes anos, descobrindo cachoeiras, quitandeiras, quilombos escondidos há séculos, alimentos que não sabíamos, instrumentos modificados criando músicas inéditas, lugares inimagináveis para a maioria dos brasileiros!

Apesar de ver o sertão mudando, suas paisagens, o ambiente, a tecnologia, percebia que algo permanecia inerte, as pessoas! Suas crenças, histórias, hábitos, tudo ainda permanecia ali. O sertão descrito por Guimarães Rosa ainda é vivo e pulsante! E por mais que o cerrado clame ajuda, a preservação daquele bioma depende essencialmente do sertanejo, de quem vive lá!

O ponto central, em algum momento deixou de ser nossos eventos esportivos, algo que já era nosso objetivo inicial, dar protagonismo aos moradores locais, os sertanejos, quem mora no sertão! Por anos, tentamos de diversas formas fazer isso, desenhamos projetos, como hospedarias, criamos uma rede de hospedagens familiares pela rota, afim de ampliar o contato, e gerar renda, preservar o morador ali, e dar a ele o papel de protagonista do sertão.

Como evento esportivo, já estávamos consolidado há alguns anos, pouco poderia ser feito para que todo este fenômeno de dar protagonismo ao sertanejo fosse para além do evento esportivo! Não ganhava lastro, principalmente, pela falta de estrutura local, como internet, transporte, acesso, e o mais importante, a dinâmica de vida!

O sertanejo vive uma dinâmica de vida diferente, não que ele seja distante de tecnologias, não se enganem, mas ele vive o ritmo do ambiente! Lá, no sertão, o ambiente não muda a nosso favor, precisamos nos adaptar a ele. Agora como isso conversa com o mundo alucinante das cidades, era o novo desafio!

Queríamos que o impacto gerado pelos nossos eventos pudesse desencadear um movimento frequente, mas não sabia como!

Com a pandemia e a liberação dos eventos apenas em 2022, optamos por deixar nossas celebrações de 10 anos para nossa decima edição, e isso tem um motivo claro e muito bem definido!

Durante a pandemia, descobri um conceito novo de museu, Museu de Território, achei que ali poderia estar a solução para este desafio, dar perenidade ao evento, deixar um legado e unir o sertão de Guimarães Rosa.

E o que tudo isso tem haver com o mundo outdoor?

Um caminho que é real, onde aconteceu uma experiência real, dai, criou-se o imaginário, um romance. O romance, então imaginário, se tornou real, um livro, que agora, resgata o imaginário das pessoas e a essa reflexão sobre onde o Real e o Imaginário se confundem!

Pois é, essa é a ideia! Queremos que as pessoas que leram ou não Guimarães Rosa, possam percorrer este trajeto, e ter essa experiência.

Todo este conhecimento agregado ao longo dos anos organizando a Caminhos de Rosa, nos deu experiência para criar uma rota onde a aventura, o esporte, a cultura e as pessoas estejam em protagonismo!

Nosso será inaugurado em 2025, uma rota de 1.000 km, ligando Belo Horizonte ao Parque Grande Sertão Veredas, com vários pontos citados pelo autor em suas obras, lugares onde ele nunca esteve, lugares que ele descreveu como quem ali vivesse.
No Parque Grande Sertão, você também estará no Mosaico Sertão Veredas Peruaçu! Vamos ligar o Parque Grande Sertão ao Parque Nacional do Peruaçu, 300 km! Ou você poderá seguir até Brasilia, 400 km!

O Mosaico Sertão Veredas Peruaçu, localizado no norte de Minas Gerais e sudoeste da Bahia, foi ampliado recentemente de 1.8 milhão de hectares para mais de 3 milhões de hectares. A inclusão de dez unidades de conservação no Mosaico, somando um total de 25 áreas protegidas, Esta é uma das áreas mais emblemáticas do bioma e é estratégica para a conservação das paisagens naturais, da socio biodiversidade e da cultura dos povos tradicionais.

De resto, vamos continuar contando, por aqui, um pouco das histórias, lugares e sabores por aqui na Gear Tips, onde acreditamos ter mais espaço para essas propostas!

Valeu galera!