Como ter sorte no Aconcágua

“Nunca deixe uma oportunidade passar”, diz Pete McAffee. Esse escalador americano entende bem o significado dessa frase, ele foi da participação desanimada em um concurso nas redes sociais para o no topo da montanha mais alta do mundo fora da Ásia, o Aconcágua.

A oportunidade, neste caso, era um concurso criado pela Deuter USA (a divisão americana das prestigiadas mochilas alemãs), desenvolvido em uma iniciativa conjunta com a Grajales Expeditions, para oferecer uma vaga em uma expedição ao Aconcágua. A mesma campanha que está acontecendo hoje no Brasil, com a participação do Gear Tips.

Mas obviamente o que tornou tudo possível foi a determinação de Pete, ao invés da chance em si. Esta história emocionante foi descrita neste relato de primeira mão feito por ele sobre a escalada merecida até o cume do Aconcágua.

O que você faria se lhe dessem a oportunidade de escalar a montanha mais alta dos hemisférios sul e oeste? Que tipo de perguntas você faria a si mesmo? Será que estou em boa forma? Sou forte o suficiente mentalmente? Por que eu faria isso? Para complicar as coisas, sou amputado da perna direita… Eu sou fisicamente capaz de conseguir isso? Estas eram as perguntas que passavam pela minha cabeça quando recebi o telefonema.

Eu tinha me inscrito em uma campanha da Deuter USA para ganhar uma vaga em uma expedição ao Aconcágua. Quem poderia imaginar que você poderia ganhar alguma coisa nas redes sociais? Bem, deixe-me dizer, essa vaga era real, e eu tinha cinco meses para treinar antes de partir para esta expedição.

Tanner Schaefer, meu bom amigo e parceiro de escalada, me ajudou a dissipar minhas dúvidas. Ele me disse que se isso fosse uma loteria real, “eles são os sortudos, não você”. A maioria das minhas dúvidas rapidamente desapareceu quando aceitei a oferta. Para ser justo, Tanner estava certo, pelo menos eu tinha tantas chances quanto qualquer um de alcançar com sucesso o cume do Aconcágua. Eu já era um esquiador ávido e montanhista. Eu passava semana sim, semana não, brincando nas montanhas do norte da Califórnia e nas Montanhas Cascade do Oregon e do sul de Washington. Não é como se eu não tivesse feito coisas difíceis antes. Eu escalei vários picos técnicos e não técnicos, bem como vulcões de grande altitude no Equador. Caramba, eu e um grupo de amigos subimos e descemos esquiando com sucesso o Denali e fizemos isso sem guia! Tanner estava certo. Minha confiança estava crescendo e eu estava começando a acreditar que era o homem certo para o trabalho!

Dito isso, eu não ia encarar isso de forma leve. Uma grande oportunidade estava em jogo e eu não ia deixar escapar. Aumentei meu treinamento, carregando mochilas de 34 kilos em montanhas e aumentando meu trabalho cardiovascular nos dias sem montanhismo. Comecei a passar dias mais longos nas montanhas e comecei a subir e descer, em vez de subir e descer esquiando. Eu prego muito sobre a necessidade de se preparar para ter sorte. Eu já tinha uma boa base cardiovascular e passava muito tempo nas montanhas quando essa oportunidade se apresentou. Eu estava em uma boa posição para “ter sorte”.

Os cinco meses extenuantes de treinamento passaram rapidamente até 26 de janeiro. Minhas malas estão prontas, meu equipamento está organizado e estou embarcando em um avião rumo à Argentina.

No dia seguinte, conheci minha equipe pela primeira vez. Éramos oito pessoas no total, dois guias e seis clientes. Era um grupo muito diversificado culturalmente de homens e mulheres, mas nos unimos imediatamente e a equipe se deu muito bem. Fizemos uma verificação de equipamentos e aproveitamos para comer em Mendoza.

Nenhuma expedição está completa sem um pouco de drama e esta não foi exceção. Devido às temperaturas anormalmente altas e ao potencial de enchentes no vale do Vacas, o governo argentino fechou a rota da travessia polonesa. Isso significava que não faríamos o percurso que planejamos. Embora isso fosse decepcionante para alguns, mantive uma mentalidade aberta e decidi não me estressar com coisas que não podia controlar. Fiquei feliz em me adaptar e seguir em frente com a próxima opção: escalaríamos a rota normal.

Nossa equipe passaria os próximos 13 dias trabalhando em belos e desolados vales e subindo uma montanha rochosa e árida.
Os acampamentos, incluindo o acampamento base, eram extremamente bem estabelecidos e apoiados. Eles ofereciam muitas comodidades e uma comida deliciosa fornecida pela Grajales Expeditions. E não estou brincando, essas refeições eram gourmet. Eu nunca comi tão bem na minha vida!

A cada mudança para um acampamento mais alto, surgiam vistas ainda mais impressionantes dos Andes e das geleiras ao redor. Nunca vi pores do sol mais bonitos do que os que vivenciei em Nido de Cóndores (acampamento a 5.500m).

Assim que nos mudarmos para o acampamento alto, Camp Colera, a 5.980m de altitude, o esforço para atacar o cume estaria em andamento. Já estava ventando e fazendo muito frio, mas a previsão era piorar durante a noite. Deitei em minha barraca, rezando por uma oportunidade de tentar um cume. Eu não rezei por um cume bem-sucedido porque o cume em si deve ser conquistado por conta própria.

Nas primeiras horas da manhã, lançamos nossa tentativa de cume, em condições climáticas nada boas. Considerando que estávamos lidando com ventos fortes o suficiente para derrubar um homem, sensação térmica extrema e formação de nuvens lenticulares na parte superior da montanha, por tudo isso me considero muito sortudo por ter escalado com sucesso o Aconcágua!

Mas fiquei triste ao ver que nenhum dos meus companheiros de equipe estiva lá para compartilhar aquele momento comigo, pois todos foram forçados a voltar devido às condições extremas. Fui abençoado por ter compartilhado a luta com outro homem, de outra equipe de escalada da Grajales, e que eu tinha conhecido bem ao longo da expedição.

Sou eternamente grato aos meus incríveis guias Grajales, Julián Castro e Jorge González, que acreditaram na minha capacidade e arriscaram ao me deixar continuar. Guias menos experientes teriam nos mandado de volta, mas Julián tem mais de 20 anos de experiência. Acredito que ele desenvolveu um olhar para ler as pessoas na montanha e saber quem vai conseguir e quem não vai. Julián e Jorge estavam à beira de nos mandar de volta várias vezes naquele dia, e estou grato por não terem feito isso. A única opção para chegar ao cume nessas condições era se mover muito rápido e nós éramos a equipe perfeita para fazer isso.

Eu não fazia ideia do que estava me metendo quando aceitei um lugar nesta expedição. Fiz relacionamentos que durarão para sempre e esta montanha me testou. Eu experimentei algo que não pode ser colocado em palavras. Algo que poucas pessoas na Terra têm a oportunidade de experimentar e isso me tornou uma pessoa melhor. Gostaria de agradecer à Grajales Expeditions, à Deuter e à Ortovox por financiar a expedição e me dar esta oportunidade. Nunca deixe uma oportunidade passar!

Pete McAfee

Não há muito a acrescentar, além de um grande obrigado, em nome da família Grajales Expeditions. Para Pete, por escalar conosco e por gentilmente compartilhar sua experiência; aos nossos guias Julián e Jorge, por sua profissionalismo e habilidades de liderança excepcionais, e, por último, mas não menos importante, à nossa empresa parceira Deuter, por nos permitir fazer parte de uma jornada tão gratificante. Como Jane Austen escreveu uma vez: “É uma felicidade quando pessoas boas se juntam – e elas sempre se juntam”.

Confira a análise de Pete McAfee aqui: https://www.facebook.com/GrajalesExpeditions/reviews