Você já deve ter notado que, de uns tempos para cá, as prateleiras dos mercados têm exibido cada vez mais produtos e alimentos chamados de "proteicos", "com acréscimo de proteínas" e "ricos em proteínas". Sem contar a enxurrada de receitas divulgadas nas mídias sociais com whey protein e outras fontes de proteína, criando versões proteicas de receitas tradicionais.
Mas será que realmente precisamos de tanta proteína? E por que tem se dado tanto foco a ela?

Para explicar o porquê desse foco em relação à proteína, primeiro precisamos entender o contexto sociocultural atual. Vivemos hoje o que diversas vertentes sociológicas e filosóficas caracterizam como um modelo de produtividade, no qual somos reconhecidos, valorizados e definidos pela nossa capacidade de produzir. Essa característica acaba por reduzir o nosso organismo a um modelo de "máquina", em que o alimento serve como combustível ou como meio para atingir um objetivo ou aumentar a produção. Isso é facilmente notado quando reparamos em conversas em que alguém se queixa de algo e outra pessoa sugere comer determinado alimento ou seguir uma dieta específica como solução.
O que nos leva agora ao segundo ponto: a importância das proteínas para o organismo. Esse é um assunto estudado há décadas — o whey protein, por exemplo, tem pesquisas datadas da década de 1970. Devido às diversas funções das proteínas em estruturas do organismo, enzimas, transportadores, sistema imunológico e muito mais, elas despertaram grande interesse nas pesquisas em saúde, levando a avanços importantes em diversos tratamentos, diagnósticos e prognósticos, o que também mobilizou a indústria a investir na criação de novos produtos.
Essas pesquisas também chamaram a atenção para as aplicações das proteínas e suas manipulações na dieta de atletas de diversas modalidades, resultando em descobertas relevantes na recuperação, nas funções imunológicas, na diminuição de lesões e no ganho de desempenho físico. A indústria, por sua vez, potencializou esse uso com produtos que facilitaram o acesso e a utilização no dia a dia, nos treinos e nas competições, aumentando ainda mais a demanda e o sucesso.

E agora chegamos à união dos pontos discutidos. Como dito anteriormente, a valorização da nossa capacidade de produzir e de nos manter produzindo, assim como a valorização da demonstração do nosso potencial e de nossas conquistas, nos coloca em um paralelo com os atletas. Vemos cada vez mais adeptos de esportes como corrida, ciclismo, musculação, crossfit, entre outros. Dentro desse aumento de praticantes, também está a mesma busca pela excelência, o que se reflete no mercado com o crescimento da disponibilidade de produtos, equipamentos e competições de alto desempenho voltados para o público geral — e na resposta positiva desse público. Com isso, diversos suplementos que já existiam e eram amplamente utilizados por atletas ganharam a atenção do público em geral e, com o impulso das mídias sociais, da internet e do marketing das empresas de suplementos, a função desses produtos foi elevada a quase obrigatoriamente necessária para se atingir o desempenho tão sonhado.

E não para por aí: com essa alta exigência de produtividade e a dedicação cada vez maior das pessoas a isso, exigências comuns como o cuidado com a casa e a alimentação perderam espaço na agenda. Isso fez com que as pessoas precisassem de mais agilidade no dia a dia ou acabassem negligenciando esses cuidados. Assim, o mercado identificou, nesse contexto em que o desempenho é cobrado e a saúde é um fator preocupante, uma oportunidade para divulgar a inserção de isolados de proteínas, vitaminas, shakes, macarrões e iogurtes proteicos, pães, entre outros. Como resposta para essa demanda por praticidade e preocupação com a saúde — sem prejudicar a rotina — esses produtos foram ainda mais incorporados ao nosso dia a dia.
E é agora que respondo à pergunta do início: Será que realmente precisamos de tanta proteína?
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