O Caminho de Santiago de Compostela é uma jornada milenar que atrai peregrinos do mundo inteiro, oferecendo uma experiência única de autodescoberta, conexão espiritual e encontros enriquecedores. Ao longo dessa caminhada, é fundamental estar preparado com o equipamento adequado, especialmente quando se trata de enfrentar condições climáticas adversas, como frio e ventos fortes. Ter o vestuário para frio apropriado pode fazer a diferença entre uma peregrinação segura e uma situação de risco no Caminho de Santiago. É sobre essa experiência que compartilho com vocês um pouco da minha jornada pelo Caminho de Santiago Francês.

Como estar em grupo, bem preparado e equipado me fez cruzar o Pirineus, no Caminho de Santiago de Compostela, em condições desafiadoras.

Preparação e planejamento: Equipamentos e vestuário essenciais para o Caminho de Santiago

Comecei a caminhada do primeiro dia do Caminho de Santiago de Compostela, de Saint-Jean-Pied-de-Port até o Albergue Borda, por volta das 10 h. Isso porque a caminhada neste primeiro dia seria curta, com pouco menos de 10 km. Apesar de íngreme, foi uma subida tranquila, à exceção dos ventos fortes, de cerca de 50 km/h. Mas o dia estava muito bonito e rapidamente cheguei ao meu destino.

Iniciando o Caminho Francês de Santiago de Compostela - Pedro Lacaz AmaralTudo pronto para o início do Caminho de Santiago
Saint-Jean-Pied-de-PortSaint-Jean-Pied-de-Port

 

Primeiro dia: de Saint-Jean-Pied-de-Port ao Albergue Borda

O Albergue Borda já fica na subida dos Pirineus, pela Rota de Napoleão. No dia que cheguei em Saint-Jean-Pied-de-Port, fui até a Oficina do Peregrino para pegar minha credencial, e lá me informaram que esta rota estava fechada em função de uma nevasca e de condições meteorológicas adversas. Eles acabam sendo mais restritivos nas recomendações, pois existem peregrinos de todos os tipos: desde os preparados e equipados até os que vão sem roupa de frio nenhuma e podem ter problemas sérios.

Placa indicando que a rota de Napoleão estava fechada
Placa indicando que a Rota de Napoleção estava fechada

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Saí meio desanimado, pois queria cruzar os Pirineus pela Rota de Napoleão e já tinha reserva no Albergue Borda. Entrei numa loja de equipamentos e fui conversar com o dono, que me confirmou que o pessoal da Oficina, em vista de qualquer mudança no tempo, dizia para não ir… mas que ele acreditava que daria para passar, sim.

Estrada até o Albergue Borda – Rota de Napoleão – Pirineus Franceses
Estrada até o Albergue Borda – Rota de Napoleão – Pirineus Franceses

Resolvi ligar para o Albergue Borda e o dono, Laurent, me disse para ir que, no jantar, junto com os demais peregrinos, conversaríamos sobre a previsão do tempo do dia seguinte e decidiríamos em conjunto. Se não fosse possível cruzar os Pirineus pela Rota de Napoleão, ele chamaria uma van que nos levaria a Valcarlos e de lá seguiríamos andando até Roncesvalles.

Conexões inesquecíveis: conhecendo Ben e Patrick

No Albergue Borda, conheci Ben Farinazzo (australiano) e Patrick d’Haussen (francês), além do resto do grupo, composto em sua maioria pelas americanas Beth, Nicole, Laura, Linda, Fiona e Jordana; uma taiwanesa, a Elaine; outra australiana, Helen; e dois casais de sul-coreanos, sendo que um deles acabou ficando mais próximo, cujos nomes cristãos são Mary e Sebastiano.

Albergue Borda - Rota de Napoleão - Caminho Francês Santiago de Compostela
Albergue Borda – Rota de Napoleão – Pirineus Franceses

Quando cheguei, o albergue ainda estava fechado, mas Patrick me chamou para uma área abrigada para me proteger do vento, e fui apresentado ao Ben. A interação do grupo foi incrível, tanto que mantivemos contato durante todo o Caminho de Santiago. Creio que isso aconteceu não só pela empolgação do primeiro dia de peregrinação, mas também pelo albergue ser pequeno e pelo jantar comunitário, com todos juntos sentados à mesma mesa (na verdade, eram duas mesas).

Jantar no Albergue Borda
Jantar no Albergue Borda – Rota de Napoleão – Pirineus Franceses

Desafios climáticos e escolhas de equipamentos: A Rota de Napoleão Fechada

À noite, durante o jantar, Laurent nos falou sobre a previsão do tempo no dia seguinte (temperatura entre 3 e 8 ºC e vento entre 50 e 70 km/h, ou seja, uma sensação térmica de algo como -13 ºC). Ben e Patrick queriam cruzar os Pirineus pela Rota de Napoleão, enquanto o resto do grupo preferia ir de van até Valcarlos e de lá seguir caminhando para Roncesvalles. Decidi ir com Ben e Patrick.

Amanhecer no Albergue Borda - Rota de Napoleão - Pirineus Franceses
Amanhecer no Albergue Borda – Rota de Napoleão – Pirineus Franceses

Superando obstáculos: cruzando os Pirineus com vestuário para frio adequado

No dia seguinte, nós três saímos cedo, logo depois do café da manhã, com o dia ainda amanhecendo. Realmente, estava muito frio e ventava muito. Mas estávamos preparados.

Ben, Patrick e eu, saindo cedo em direção a Roncesvalles
Ben, Patrick e eu, saindo cedo em direção a Roncesvalles

Sabendo que atravessaria os Pirineus no primeiro dia da abertura do Caminho e que existia a possibilidade de enfrentar temperaturas baixas e neve, optei por levar algumas roupas e acessórios que julguei importantes:

1. Luvas de Polartec Black Diamond;
2. Gorro e Bandana Buff Gear Tips de ThermoNet (feitos com Primaloft, são desenvolvidos para climas frios);
3. Meia Outdoor Midweight Crew Injinji + Meia T3 Light Hiker Eco Lorpen;
4. Calça MH500 Quechua (1ª camada);
5. Camisa Manga Longa Lifa Active Solen com Capuz Helly Hansen (1ª camada);
6. Jaqueta SwissWool Col Becchei Hybrid Ortovox (2ª camada);
7. Jaqueta de Pluma (90/10 e 900+ cuin) Sea to Summit (2ª camada alternativa);
8. Jaqueta Impermeável/Respirável Andes PRO Kailash (3ª camada);
9. Calça Impermeável/Respirável Evolution Valley Columbia (3ª camada).

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Assista à live “Equipamentos para Peregrinos: Santiago de Compostela” e veja todos os equipamentos que usei durante o Caminho de Santiago!

 

O Sistema de Camadas: vestuário adequado para condições adversas

A importância da escolha do vestuário adequado não pode ser subestimada. O Sistema de Camadas foi essencial para manter o conforto e a segurança durante a caminhada. Temos muito conteúdo no Gear Tips sobre o sistema de camadas, mas, vou resumir abaixo:

Vestuário Caminho Santiago - Primeira camada ou base layer
Primeira camada (base layer): Roupas que ficam em contato com a pele e têm a função fazer o gerenciamento de umidade e, consequentemente, de manter a pele seca, promovendo a evaporação do suor. No frio, tecidos especiais também vão reter o calor. Usei a calça MH500 Quechua e a camisa Lifa Active Solen com Capuz Helly Hansen. Não levei segunda pele (que é a primeira camada feita para climas frios) pois em geral, sou calorento e achei que não seria necessário. E, realmente, para mim, não fez falta. Além disso, usei as luvas, bandana e o gorro, que neste caso atual como 1a camada.
Vestuário Caminho Santiago de Compostela - Segunda Camada
Segunda camada (mid layer): Roupas que têm a função de fazer o gerenciamento térmico, promovendo isolamento térmico e retendo o calor do corpo. Usei a jaqueta SwissWool Col Becchei Hybrid Ortovox e a jaqueta de pluma Sea to Summit como alternativa. Esta segunda, só foi necessária quando paramos para lanchar, pois a produção de calor pelo corpo diminui nestes momentos, e é fundamental não perdermos o calor gerado.
Vestuário Jaqueta Andes Kailash Pro
Terceira camada (outer layer): Roupas que protegem contra os elementos externos, como o vento, chuva e neve, como a jaqueta impermeável Andes PRO Kailash e a calça impermeável Evolution Valley Columbia.

Visual dos Pirineus Franceses ao longo do Caminho de Santiago
Visual dos Pirineus Franceses

Existe um ditado que diz: “Não existe tempo ruim. Existe equipamento inadequado”. Claro que, em determinadas situações, o melhor dos equipamentos pode não salvar uma pessoa. Até porque, não é só de equipamento que precisamos. No Gear Tips, sempre falamos que para desempenharmos uma atividade ao ar livre de forma adequada, necessitamos de:

  1. Condicionamento Físico & Mental;
  2. Equipamentos & Tecnologia;
  3. Habilidades Técnicas.

Engrenagens do Gear Tips

Além destas três engrenagens, é preciso ter algo que é cada vez mais importante: um mindset de sustentabilidade.

O dia transcorreu de forma tranquila, apesar do vento inclemente que por vezes nos fazia parar e agachar para não sermos levados. Mas a conversa e a camaradagem que se formou fez com que qualquer obstáculo fosse ultrapassado com facilidade.

Pirineus Franceses - Caminho de Santiago de Compostela
Visual dos Pirineus Franceses no Caminho de Santiago de Compostela

Reflexões e aprendizados: encontrando clareza e propósito no Caminho de Santiago

Uma das primeiras coincidências do Caminho aconteceu quando Ben, caminhando ao meu lado, me perguntou: “Já te contei sobre a Outward Bound?” Eu respondi que não e pedi que contasse. Em resumo, ele foi por alguns anos o CEO da Outward Bound Austrália. Me contou do trabalho que faziam com crianças e jovens e, quando eu disse que não só conhecia, mas que já havia participado de programas da Outward Bound Brasil e também contribuía ativamente com a instituição (doando equipamentos e revertendo parte das vendas do Gear Tips Club para o Fundo de Bolsas), ele ficou maravilhado.

Programa Pais e Filhos - OBB 2019
Programa Pais & Filhos da Outward Bound Brasil (OBB) em 2019

Obviamente, passamos um bom tempo conversando sobre o assunto. Hoje, olhando para trás, essa já foi uma das coincidências que me levou a, mais tarde, ter mais claro do que nunca o meu propósito de vida.

As conversas com Patrick também foram muito interessantes. Já aposentado e vivendo na Bretanha, ele me contou que dois anos atrás percorreu a primeira parte do Caminho de Santiago Francês, que vai de Le Puy-en-Velay até Saint-Jean-Pied-de-Port, uma caminhada de cerca de 800 km.

Esse caminho é também conhecido como GR-65 (GR é a sigla de Grande Randonnée ou caminhada de longo curso, em francês). A maior parte das pessoas acredita que ele começa em Saint-Jean-Pied-de-Port, mas ali é apenas a metade do caminho!

GR-65 – Le Puy-en-Velay a Santiago de Compostela
GR-65 – Le Puy-en-Velay a Santiago de Compostela

Juntos, Ben, Patrick e eu vencemos os Pirineus e chegamos com segurança em Roncesvalles, depois de quase 6 horas de caminhada. Lá encontramos o resto do grupo que haviamos conhecido na véspera, no Albergue Borda. Organizamos nossas coisas, jantamos, assistimos à Missa do Peregrino e fomos dormir.

Chegada a Roncesvalles - Caminho Francês Santiago de Compostela
Ben, Patrick e eu, na chegada a Roncesvalles

Conclusão: planejamento, equipamento e amizades – Lições do Caminho de Santiago

Em resumo: planejamento é fundamental para qualquer atividade. Esteja preparado. Equipamento adequado, condicionamento físico e mental, e as habilidades técnicas certas são essenciais. E estar com amigos e criar conexões significativas pode transformar qualquer desafio em uma experiência enriquecedora. No final, essas conexões e experiências nos ajudam a encontrar clareza e propósito, algo que eu buscava e encontrei no Caminho de Santiago.

Para saber mais sobre vestuário e sistema de camadas

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Pedro Lacaz Amaral

Praticante de atividades ao ar livre desde 1990, sempre teve espírito aventureiro. Formado em Administração com especialização em Marketing e Business Inteligence, Pedro, junto com Kiko Araujo trouxe em 2001 a Deuter para o Brasil e atualmente é sócio da Proativa, empresa que faz a gestão das marcas Azteq, CamelBak, Deuter e Sea to Summit no Brasil.

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