2º Congresso Brasileiro de Trilhas, impressões e reflexões

Em 2022 quando vi sobre a realização de um Congresso Brasileiro de Trilhas, logo fiquei interessada e curiosa sobre o assunto. Ao me informar sobre a data e local, logo percebi que não poderia estar presente na ocasião, mas fiquei atenta para uma próxima edição.

Em 2023, quando a organização fez a divulgação da data e local da 2ª edição do evento, prontamente me inscrevi para participar e entender melhor sobre o processo de evolução da Rede Brasileira e também entender melhor como estava na prática esse movimento de criação de trilhas pelo Brasil afora, que eu acompanhava apenas virtualmente.

O 2º Congresso Brasileiro de Trilhas aconteceu de 20 a 24 de setembro, no Caminho Niemeyer, em Niterói. Dia 20 de setembro foi dedicado ao 1° Seminário Técnico-Científico com foco no tema Caminhos e Desafios para a Conservação e Restauração da Conectividade da Paisagem. Do dia 21 ao 24 foram as atividades do Congresso em si. O evento tinha inscrições gratuitas e contou com mais de 3.000 participantes vindos de todas as partes do país.

2º Congresso Brasileiro de Trilhas - 2023 - Niterói - RJ

Entenda como foi o Congresso Brasileiro de Trilhas

O público presente no evento incluía muitos gestores de unidades de conservação de todas as esferas, representantes de governos, empreendedores, cientistas, profissionais do meio ambiente, de turismo, de educação e também caminhantes, ciclistas, remadores e peregrinos, uma vez que os caminhos da Rede atendem todos esses perfis.

A programação era ampla, repleta de palestras, oficinas, mesas redondas que aconteciam paralelamente em 4 ambientes, de forma que muitas vezes o participante precisava escolher o tema mais interessante para assistir.

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A praça de alimentação estrategicamente montada entre os espaços servia como ponto de encontro e descontração, inclusive com shows no final do dia.

Apesar da presença de diversas pessoas que são usuários das trilhas, a maior parte dos conteúdos não era focada nesse público, mas sim sobre a rede, seu crescimento, oportunidades, estruturação e análises de casos, ou seja, era para quem está diretamente envolvido na criação, gestão das trilhas e unidades de conservação. É possível que o evento não tenha como objetivo o público final, mas percebi que ficou uma lacuna para esse público, que poderia ser uma oportunidade de aproximação da Rede com os praticantes de atividades ao ar livre.

Congresso de Trilhas

Após assistir o seminário técnico-científico, diversas palestras e mesas redondas sobre os mais diferentes assuntos, minha percepção é de que esse movimento de criação de trilhas é algo necessário. Esse interesse em criar esses caminhos verdes de interação com a natureza vem das próprias comunidades, que desejam desenvolver seus potenciais, receber caminhantes e com isso fomentar a geração de renda ancorada no turismo de base comunitária.

Algumas reflexões sobre o evento

É interessante observar que a Rede foi criada em 2018 e, de lá para cá, surgiram algumas centenas de trilhas que foram criadas pela própria sociedade para integrar essa grande rede. Partindo desse ponto fica explícita a importância da Rede Brasileira de Trilhas no papel de orientar e coordenar todo esse movimento, que não pode existir sem uma organização central.

Há quem questione essa profusão de trilhas se espalhando pelo Brasil de forma até desordenada em alguns momentos, tanto que a própria Rede não tem exato controle sobre quais são e onde estão todas as trilhas. Isso se dá porque o surgimento de muitas dessas trilhas é um movimento espontâneo, criado pela própria sociedade, de baixo para cima. Mas entendo que essa responsabilidade de organização vem também de parte das iniciativas de cada trilha em dialogar com a Rede e repassar dados e informações.

E vou um pouco mais a fundo em outra preocupação que fica latente com esse crescimento da quantidade de trilhas pelo Brasil. Quanto mais caminhos criamos e sinalizamos, mais incentivamos as pessoas a saírem de suas casas e percorrerem essas trilhas em meio à natureza. Qualquer um que trabalhe no segmento de atividades ao ar livre, sabe da importância desse contato e de como isso pode trazer benefícios para as pessoas. Mas por outro lado precisamos pensar em dois aspectos extremamente importantes para esses novos usuários de trilhas: a educação ambiental e o conhecimento técnico básico.

Se queremos incentivar as pessoas a percorrerem trilhas e estarem no meio natural, precisamos pensar em como vamos ensinar sobre mínimo impacto, para que essas trilhas possam de fato se transformar em uma ferramenta de conservação do meio ambiente e não caminhos de degradação. E quando falamos em promover trilhas de longo curso, precisamos também pensar nas formas para ensinar as pessoas sobre conhecimento técnico, equipamentos e planejamento, para que esses caminhos sejam percorridos com a devida consciência e segurança. Dois temas que devido à sua importância poderiam ter mais espaço ao longo do Congresso.

Outra percepção que tive nos momentos que estava junto ao stand do Gear Tips, onde estavam expostos produtos da Deuter e Sea to Summit, foi o interesse do público em saber mais sobre equipamentos, marcas e empresas que trabalham com atividades ao ar livre. Ficou claro que seria interessante tanto para os expositores, quanto para os participantes que houvesse a possibilidade de comércio de produtos e serviços durante o evento. Uma ótima oportunidade de mercado, inclusive para o crescimento do congresso.

Congresso Brasileiro de Trilhas 2023 - Niterói - RJ

Sobre a organização do evento, acima de tudo, deixo meus parabéns ao empenho de todos os envolvidos. Nem tudo foi perfeito, mas de uma maneira geral a organização foi excelente e tenho certeza que os aprendizados dessa edição poderão ser aplicados no próximo Congresso.

Por fim, participar desse evento foi sensacional! Me fez ter um outro olhar, mais profundo sobre todo esse cenário. Me fez perceber a importância da Rede e a força que vem de baixo, representando cada trilha sendo criada. Há quem possa questionar alguns pontos de toda essa grande estrutura e, no sentido de acrescentar novas ideias e opiniões, esse questionamento é válido. Ajudar a encontrar os melhores caminhos na construção desse grande sonho também é importante. O Brasil não está sozinho, nem está inventando a roda, estamos nos inspirando em grandes exemplos e, de certa forma, também já viramos referência para outros países. Como disseram mais de uma vez no evento: não existe receita de bolo! Temos muito o que aprender nessa caminhada a fim de conseguirmos criar uma grande rede que de fato proporcione lazer para as pessoas, as conecte com a natureza, desenvolva as comunidades locais e preserve o meio ambiente. A meta não é pequena e o caminho precisa ser percorrido por todos que acreditam nele, cada um somando como pode, inclusive trazendo questionamentos e desafios para a mesa. O que não podemos fazer é ignorar esse lindo movimento que se espalha por todo o Brasil de forma orgânica.

  • Para quem quer conhecer e entender melhor a Rede, sugiro a leitura deste link.
  • Para quem quer conhecer e entender melhor a proposta de criação de um sistema brasileiro de trilhas de longo curso, sugiro que assista esse vídeo (um pouco antigo).

Vale ressaltar que toda essa reflexão é minha humilde opinião e vem de uma observação orgânica do mercado, dos aprendizados ao longo do evento, da percepção do sentimento das pessoas presentes e da troca de ideias, não só dentro do evento, mas também com outras pessoas que fazem parte das minhas conexões pessoais. Você pode inclusive discordar das minhas ideias e trazer outros pontos de vista para o debate.

2º Congresso Brasileiro de Trilhas - 2023

E para finalizar, deixo um vídeo do Abelardo Walsh (@abelardowalsh) que mostra como foi o 2º Congresso Brasileiro de Trilhas, assista:

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Luiza Campello

Porto-alegrense, apaixonada por natureza, viagens, sustentabilidade e atividades ao ar livre. Gosta de estar atenta ao que acontece no cenário cultural do universo outdoor brasileiro. É formada em turismo, com especialização em comunicação estratégica e desde 2014 trabalha na Koala Digital, empresa especializada em construção de sites no segmento de atividades ao ar livre. Por estar sempre atenta ao que acontece na área, Luiza trará dicas culturais, de eventos, lançamentos e outras novidades do mercado.

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