Rio de Janeiro – Vias (não) clássicas – Parte 2

No último artigo passei dicas de algumas vias não clássicas em montanhas do Rio de Janeiro: Pão de Açucar, Cantagalo e Pico da Tijuca, e fiquei devendo as não clássicas do Corcovado e Pedra da Gávea… Bom, mesmo correndo o risco de derrubar o engajamento eu preciso confessar que menti, ou seja, não tem vias similares às clássicas nessas paredes.

Explico: para passar uma alternativa viável é preciso que a via seja acessível, tenha um grau parecido com a clássica em questão e por aí vai, o que não existe nessas montanhas…

Mas não é por ser um mentiroso que não vamos falar sobre essas montanhas.

Segunda parte da lista de vias de escalada “não clássicas” do Rio de Janeiro

Corcovado

Não tem nada acessível para substituir a mega clássica K2, uma via linda e que merece mesmo ser escalada. O que se pode fazer é apimentar um pouco a via tocando reto no diedro e fazendo a variante K3 (você precisará de peças móveis). A K3 é uma curta variante que toca reto no diedro inicial da via e lá em cima encontra a K2 de novo.

Via K3 - Corcovado - Rio de Janeiro. Foto: Escaladas Clássicas
Variante K3 – Foto: @escaladasclassicas

De qualquer forma, a K2 é uma super clássica, e mesmo sem a variante vai ser uma via que você vai lembrar a vida toda.

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Diedro - Via K2 - Vias de escalada do Rio de Janeiro - Corcovado. Foto: Escaladas Clássicas
Diedro da K2 – Foto: @escaladasclássicas

O final da K2 é especial, você termina a escalada, entra em um trecho curto de mata e em poucos minutos dá de cara com o Cristo Redentor, gigante e imponente… Não é preciso ser religioso para sentir uma sensação especial nesse momento. É muito bacana!
Mas para não dizer que não dei uma outra opção, vou falar um pouco da Diretíssima Sul (Austríacos), que seria a segunda opção mais viável dessa parede, porém é um big wall, que para duplas rápidas vai levar um dia inteiro, mas o mais comum é bivacar no platô no final da quarta enfiada e terminar a via no dia seguinte.

Parafernália para entrar na via de escalada Austríacos - Rio de Janeiro - Foto Arquivo Pessoal Kiko Araujo
Parafernália para entrar na via Austríacos – Rio de Janeiro – Foto Arquivo Pessoal Kiko Araujo

É um big wall acessível, todo em A1, mas não se engane, a Austríacos é trabalhosa e cobra no preparo físico e psicológico, pois é MUITA parede para cima, ou seja, via dura e exposta por conta do seu tamanho e inclinação.

Via Austríacos - Foto: Arquivo pessoal - Kiko Araujo
Muita parede para cima! Via Austríacos – Foto: Arquivo Pessoal – Kiko Araujo

Tenho um carinho especial por essa via, pois li a matéria sobre a conquista quando eu tinha uns 8 anos na revista National Geographic e a leitura me impactou de tal forma que anos depois comecei a escalar, sempre lembrando das fotos dessa matéria.

Também foi nessa via que passei uma situação bem arriscada, talvez a pior de toda a minha história na escalada. Eu e um amigo entramos cedo na via, mas como ele estava com equipamento para base jump, pois a ideia era escalar o Corcovado saltar lá de cima (eu não, eu ia descer de bondinho… tem fila, mas é bem mais tranquilo), estávamos muito pesados e chegamos bem tarde no platô. Bom, foi só terminar de montar o bivaque que começou a chover o que nos obrigou a rapelar cerca de 300 metros verticais as 3h da madrugada e debaixo de chuva… Foi bem tenso e ironia das ironias, ao pisar no chão a chuva parou e em poucos minutos o céu estava estrelado.

Pedra da Gávea

Pedra da Gávea - Foto Taísa Maar
Pedra da Gávea – Foto: @taisamaar

Mais uma linda e super famosa montanha da cidade e com uma via clássica imbatível, a Passagem dos Olhos. Via mega exposta, mas com uma graduação para lá de amigável, fácil mesmo, cheia de agarrões, porém não é uma via a ser menosprezada, não apenas pela sua exposição, mas também porque é preciso que o participante esteja confortável com o grau, já que a via é toda em horizontal e se cair é preciso saber fazer ascensão na corda, coisa básica para quem fez um curso de escalada (lembrando mais uma vez… YouTube não é curso de escalada).


Via “Passagem dos Olhos”, na Pedra da Gávea – Foto: @escaladasclassicas

Então duas dicas para quem não fez e quer fazer a Passagem dos Olhos: você tem que estar preparado para fazer ascensão em corda e nunca, NUNCA vá no final de semana… Aliás, nem caminhando se deve ir a Gávea no final de semana, o negócio ali está complicado. Filas e mais filas e daqui a pouco vai ter um quiosque vendendo coxinha no meio da Carrasqueira, ou seja, melhor não ir no final de semana… Coxinha faz mal à saúde.

Mas então qual via pode substituir a Travessia dos Olhos? Tem a CBMERJ 150 anos, que não vai de fato substituir, mas pode ser uma excelente opção, e vai deixar sua escalada na Passagem dos Olhos mais interessante e dura. A linha original dessa via segue em um A0 gigante e super exposto pela face do Imperador, mas a boa é fazer as duas primeiras enfiadas e emendar na Passagem dos Olhos, exatamente no início da parte linda e exposta da via, a enfiada horizontal. A CBMERJ 150 anos não é fácil, mas tem um grau acessível. Fica na casa do 5grau e crux de 7ª obrigatório, ou seja, realmente vai deixar sua escalada na Gávea mais interessante.

Face do imperador - Pedra da Gávea. Foto: Taísa Maar
A imponente face do imperador, na Pedra da Gávea – Foto: @taisamaar

Vale lembrar que informações detalhadas dessas vias podem ser consultadas no livro “Guia da Floresta”, de Flavio Daflon e Delson Queiroz – Editora Companhia da Escalada.

Dessa forma finalizo lista das vias NÃO clássicas do Rio… Na verdade a cidade tem dezenas e talvez mais de uma centena de vias nessas montanhas, mas tentei passar opções semelhantes ao grau e “nível de roubada” que você encontraria nas vias clássicas.

Boas escaladas!
Kiko Araujo

ATENÇÃO! É lógico que esse texto se destina a quem já escala, se nunca escalou e tem vontade, procure por cursos homologados. Escalada é um esporte maravilhoso, mas envolve risco de acidentes graves e até morte e por isso mesmo precisa ser praticado de forma consciente e segura, e lembre-se: YouTube não é curso de escalada!

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Kiko Araujo

Escalador desde 1992, tem trabalhado com o mercado outdoor desde 1998, quando fundou a escola de escalada Parede, com seu amigo e sócio Pedro Lacaz Amaral. Posteriormente, em 2001 fundou a empresa Proativa, que faz a gestão das marcas Deuter, Sea to Summit, Azteq e CamelBak no Brasil. Formado em marketing é especializado em marketing de relacionamento.

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