Uso dos espeques para fixar a barraca
O vento soprava forte e a sensação térmica caiu ainda mais. Éramos cinco segurando aquela enorme barraca refeitório num esforço coletivo para fixá-la ao chão pedregoso da Antártica. Com pelo menos meia dúzia de espeques no chão, consegui relaxar um pouco e aliviar a pressão física e, também, psicológica do momento - já que eu era o responsável pela segurança de todos naquele acampamento. Estávamos no pequeno refúgio chileno Risopatrón, na Ilha Robert, no conjunto conhecido como Shetland do Sul, ao norte da Península Antártica. O time de pesquisadores que eu acompanhava como alpinista era bem diverso: uma brasileira, dois chilenos e uma australiana. Ficaríamos ali, sem apoio nem suporte, por quase três semanas. Por este motivo, a montagem das barracas no acampamento precisava ser “bomba”, à prova de tempestades e das famosas rajadas de ventos antárticos que - num piscar de olhos - podem acelerar acima dos 100km/h.
Acampamento Risopatrón, Ilha Robert, Antártica. Crédito: Antônio Calvo.
Com mais de três décadas de experiência, o Programa Antártico Brasileiro - ProAntar -, disponibiliza no kit de campo espeques que são verdadeiras “lanças de solo”. Fabricados em aço e de maneira artesanal, além de pesados, possuem um longo comprimento. Isso permite uma penetração mais profunda e uma maior área de contato com o solo. Este tipo de estratégia - montagem de acampamento base -, só funciona porque as toneladas de equipamentos usados neste ambiente são transportados do Brasil de navio ou avião. E para o desembarque local nas áreas de pesquisa, o ProAntar disponibiliza botes ou helicópteros. Apenas como referência, eu tinha algo como 1,5t - isso mesmo, uma tonelada e meia - entre equipamentos, alimentação e água potável. Em outras palavras, não carregamos as tralhas nas costas como numa caminhada de longo percurso ou travessia. E, certamente, nunca encontraremos este tipo de espeque para vender nas lojas de equipamentos espalhadas pelo mundo.
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