Vagabundo – Pequeno Dicionário Filosófico de Aventura

Pequeno Dicionário Filosófico de Aventura: Vagabundo.

Desde que passei a me dedicar exclusivamente ao trabalho de viver experiências na natureza e traduzi-los em livros, documentários, palestras, cursos e treinamentos, ou seja, desde que virei "aventureiro profissional", sinto dificuldade em preencher formulários. Quando aparece a questão: profissão? Não sei bem o que responder. Trabalho ficou associado a algo repetitivo, chato, obrigatório, que alguém faz unicamente pra ser recompensando ao fim do mês com dinheiro. Algo tão ruim que exige férias regulares. Quase uma penitência. Chamar de trabalho viajar o mundo, pedalar bicicletas, caminhar por trilhas, subir montanhas, remar por rios ou pelo mar e acampar ao ar livre causa espanto aos outros. Olhos são arregalados, cabeças se viram. Chamar de trabalho algo que a maioria sonha fazer de vez em quando, nas férias, chega a causar desagravo. É uma situação delicada. No primeiro capítulo do meu primeiro livro de literatura de aventura, TRANSPATAGÔNIA: PUMAS NÃO COMEM CICLISTAS, que lancei em 2015 e já está na segunda edição, senti necessidade de me apresentar ao leitor. Eu já havia escrito, produzido e lançado dezesseis outros livros antes, entre guias de trilhas e manuais. Narrativa de viagem era algo novo pra mim e para meu público. Divaguei um pouco no livro sobre como ganhava a vida e, ao final, ofereci a autodefinição: "vagabundo profissional". Guilherme Cavallari - Pequeno Dicionário Filosófico de Aventura: Vagabundo Gostei da classificação. Etimologicamente, a palavra "vagabundo" vem do Latim VAGABUNDUS, "pessoa que anda sem destino", de VAGARE, "errar, andar ao léu", mais o sufixo BUNDUS, "propenso a, cheio de". Nada pejorativo, embora o termo tenha sido largamente usado recentemente em polêmicas políticas pra apontar quem não trabalha ou ganha a vida de forma desonesta, em especial que vive de fundos do Estado. Nada a ver. O "vagabundo" apenas não tem domicílio fixo. É um nômade sem bússola.
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Guilherme Cavallari

Guilherme Cavallari fundou e dirige a Kalapalo Editora, é autor de 19 livros e coautor de diversos filmes-documentários. Já percorreu, sozinho e de bicicleta, toda a extensão da Serra da Mantiqueira, as serras gaúcha e catarinense, toda a extensão norte-sul da Patagônia e da Terra do Fogo ida e volta e toda a extensão oeste-leste da Mongólia. Em trekking, cruzou as Highlands da Escócia de sul a norte. Além do trabalho como autor e editor, dirige o Refúgio Kalapalo, uma escola de aventura em Gonçalves (MG), na Serra da Mantiqueira.

Artigos: 4
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