Cicloviagem e acampamento na região dos Pirineus

A cultura do campismo nesse cantinho da Europa permite uma experiência diferente em duas rodas. Veja algumas dicas para planejar uma cicloviagem pelos Pirineus. Para quem ganha em Real, gastar em Euro pode ser um fator para complicar bastante a realização de uma cicloviagem. E infelizmente essa é a realidade para a grande maioria das pessoas. Assim, na hora de organizar uma aventura em duas rodas para esse canto do mundo é preciso buscar maneiras de economizar, lembrando também que às vezes essa economia pode representar muito mais do que simplesmente não ter os recursos necessários. Pode ter como significado a busca pela simplicidade, comum a quem se propõe a viajar de bicicleta. E, no caso específico deste artigo, se mesclam a questão financeira e a experiência proporcionada ao optar pelos campings como opção de pernoite e locais para descanso. Em setembro do ano passado, tive a felicidade de realizar a "Transpirenaica", a Travessia dos Pirineus, uma rota de mais de mil quilômetros cruzando essa cadeia de montanhas entre Espanha, Andorra e França, do Mar Mediterrâneo ao Mar Cantábrico. Quando comecei a idealizar essa cicloviagem, dois anos antes, a primeira observação foi que os preços de hotéis passam longe da minha realidade e não teria a disponibilidade de albergues como ocorre no Caminho de Santiago de Compostela ou outras rotas que levam até a catedral em homenagem ao apóstolo Tiago Maior. Mas, também bem diferente desse popular caminho, na região dos Pirineus é rica a cultura do campismo. Dessa forma, comecei a mapear o trajeto e os locais onde havia esse tipo de hospedagem como ponto de parada, pelo menos na grande maioria dos dias. Atravessando o Congosto de Ventomillo, nos Pirineus, uma estradinha cercada por um grande paredão rochoso Atravessando o Congosto de Ventomillo, uma estradinha cercada por um grande paredão rochoso

Cultura familiar e boa estrutura dos Pirineus

Quando falo em camping, não estou simplesmente descrevendo lugares para a montagem de barracas. Nessa região europeia há uma cultura fortíssima voltada para o campismo, com vários ambientes que oferecem grande estrutura para os visitantes que utilizam trailers e outros meios de abrigo, entre eles barracas fixas ou chalés. A cada 50 quilômetros, em média, existem campings. Em muitas cidades ou povoados, até mais de um. Em alguns desses ambientes há piscina, sauna, restaurante, mercado, quadras esportivas, entre outros atrativos que fazem com que muitas pessoas e suas famílias fiquem vários dias estacionadas por lá. Cultura do campismo é muito forte nessa região da Europa

Boa estrutura

Dos que tive a oportunidade de conhecer, 90% oferecia muito boa estrutura. Áreas arborizadas e planas para montar a barraca, locais para carregar eletrônicos, mesas para cozinhar, banheiros com chuveiro quente, locais para lavar louça e roupa, além dos atrativos citados acima. De todos os campings que fiquei, um dos poucos que não tive boa experiência foi no povoado de Bagá, região da Catalunha. A área para as barracas fica bem afastada, longe dos banheiros e pontos com tomada, além do local não oferecer o serviço de mercado – um problema se tratando que fica longe da "cidade". Havia apenas um pequeno bar, com poucas opções de refeição e nada para comprar para o café da manhã. O Bassegodá Park, no povoado de Albanya, é o único dessa região e oferece boa estrutura O Bassegodá Park, no povoado de Albanya, é o único dessa região e oferece boa estrutura

Alimentação durante a cicloviagem nos Pirineus

Ainda sobre esse tópico, outra vantagem é que a grande maioria dos campings tem um mercadinho, oferecendo desde produtos para refeições rápidas a pequenos jantares. Em parte deles, encontrei também restaurantes. Dessa forma, o ciclista não precisa se deslocar para a cidade para comprar o que vai fazer para o jantar e café da manhã, além do lanche da etapa seguinte. No caso dessa cicloviagem especificamente, a logística de alimentação é mais complicada porque entre os povoados maiores ou cidades dificilmente se encontra lugares para comprar alguma coisa. Só para se ter uma ideia, por duas vezes andei mais de 50 quilômetros sem encontrar absolutamente ninguém. Campings oferecem serviço de mercado, ideal para evitar ter que se deslocar para a cidade para fazer compras Campings oferecem serviço de mercado, ideal para evitar ter que se deslocar para a cidade para fazer compras

Uops....

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Marcello Medeiros

Coluna: Cicloturismo
Desde muito menino a bicicleta está presente na minha vida. Aprendi a andar em uma espécie de Caloi Cross montada com peças de diversos modelos e anos depois, quando recebi meu primeiro salário, não hesitei em investir em uma mountain bike básica dos anos 90. E essa simples bicicleta rendeu minhas primeiras aventuras e experiências de liberdade pelas estradas da região. Na fase adulta fiquei alguns anos longe das duas rodas por culpa de uma nova paixão – as montanhas. Mas quando a vida ficou cinza e parecia sem sentido, dona magrela me ajudou a reencontrar a liberdade. Me redescobri e percebi que nunca deveria ter deixado de pedalar. Vieram em seguida as cicloviagens e a certeza que o mundo fica muito menor quando se escolhe vivencia-lo da maneira mais simples e prática possível. Fui Presidente do Centro Excursionista Teresopolitano (CET) entre 2007 e 2013, clube que me permitiu conhecer a essência do montanhismo e aplica-la na vida diária e em outras atividades, como no ciclismo. Editor e Repórter do jornal O Diário de Teresópolis, passei a registrar com o máximo de precisão possível cada caminho desbravado em duas rodas, caminhando ou escalando, para tentar fazer com que outras pessoas compreendam a preciosidade e importância disso tudo e, mais do que isso, de buscar o autoconhecimento e enriquecimento pessoal em cada momento vivido naquilo que lhe dá prazer. Para cima, sempre!

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